Esta data no Evangelho (5 de novembro)

Francisco Muniz


O apóstolo Tiago é autor de uma das Epístolas Católicas enfeixadas no Novo Testamento e certamente se trata daquele que fora cognominado Tiago Menor, porquanto o dito “Maior”, irmão de João Evangelista – ambos filhos de Zebedeu e Salomé – havia sido morto no ano 44 por ordem do rei Herodes. A palavra “católico”, para deixar tudo mais claro, significa universal, ou seja, essas epístolas são para todos, pois não têm um destinatário indicado, como as que Paulo escreveu. É dessa Carta, tornada conhecida por volta do século IV, que tiramos o assunto para os comentários deste dia 5 de novembro. Eis, então, o texto do versículo 11 do capítulo 5 desse documento, colocado sob a epígrafe “A vinda do Senhor” na Bíblia de Jerusalém, que utilizamos em nosso estudo:  

“Notai que temos por bem-aventurados os que perseveraram pacientemente. Ouvistes falar da paciência de Jó e sabeis qual o fim que Deus lhe deu. Com efeito, o Senhor é misericordioso e compassivo.”

O missivista exorta a então pequena comunidade de cristãos, espalhada pelos mais diversos pontos do mundo conhecido de então, a perseverar na fé enquanto aguardava a chegada do Paráclito (ou Paracleto), no cumprimento da promessa de Jesus a seus discípulos antes do sacrifício na cruz: “Não vos deixarei órfãos; voltarei para vós. Ainda um pouco, e o mundo não me verá mais, mas vós me vereis; porque eu vivo, e vós vivereis. Naquele dia conhecereis que estou em meu Pai, e vós em mim, e eu em vós. Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado de meu Pai, e eu o amarei, e me manifestarei a ele. Disse-lhe Judas [não o Iscariotes]: Senhor, de onde vens que te hás de manifestar a nós, e não ao mundo? Jesus respondeu, e disse-lhe: Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e meu Pai o amará, e viremos para ele, e faremos nele morada” (João 14:18-23).

“Paráclito”, em grego, significa “aquele que conforta, ou consola”, de modo que Tiago nos fala da vinda daquele “outro consolador” referido pelo Mestre há mais de dois mil anos. Os cristãos tiveram de esperar dezoito séculos até que a profecia do Nazareno pudesse se cumprir, através da Revelação Espírita, a terceira – ou quarta, se relacionarmos também Abraão, iniciador do culto ao Deus único – que Deus proporcionou à Humanidade. Mas, assim como os judeus de seu tempo não reconheceram Jesus como o Messias anunciado pelas Escrituras, muitos cristãos da atualidade relutam em admitir a Doutrina Espírita como a concretização do Paracleto no mundo.

No entanto, o que de fato importa é a bem-aventurança resultante da longa espera e do exercício paciente da perseverança. Nesse sentido, vale recordarmos as palavras de Jesus, afirmando que “aquele que perseverar até o fim será salvo” (Mateus 24:13). Tiago oferece o exemplo de Jó, que soube manter sua fé no Criador a despeito de ter perdido tudo o que o fazia rico e invejado perante o mundo, sendo recompensado no final com muitos mais benefícios. E isso é tudo quanto o Cristo nos pede: que lhe sejamos fiéis até o fim, suportando pacientemente todas as adversidades, conscientes de que não pertencemos a este mundo material, nem ele nos pertence, de forma que devemos aprender a nos libertar de seu domínio sobre nossa condição espiritual, nossa essência divina.

É então que o Espiritismo, o Consolador prometido, vem nos oferecer seu contributo indispensável, esclarecendo-nos quanto à nossa presença temporária na Terra, com vistas a uma melhor condição na vida futura, para tanto oferecendo-nos os recursos necessários a esse cometimento. Assim, enquanto esperamos a recompensa, precisamos trabalhar com afinco, com a alavanca da fé, porque a isto nos convocam os Espíritos do Senhor, junto aos quais entoaremos o hino sagrado cujas notas se estenderão e vibrarão de uma extremidade a outra do Universo (*).

(*) Referência ao prefácio de O Evangelho Segundo o Espiritismo, de autoria do Espírito de Verdade, em quem identificamos o Cristo.


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