Francisco Muniz
Do versículo 11 do capítulo 4 da Epístola de Paulo aos
Efésios, colocado sob a epígrafe “Apelo à unidade” na Bíblia de Jerusalém,
vem o assunto para nossos comentários deste dia 4 de novembro, no âmbito do
programa de estudo de passagens do Novo Testamento sob a luz meridiana da Doutrina Espírita. Eis o texto do versículo
que nos cabe analisar:
“E ele é que “concedeu” a uns ser apóstolos, a outros
profetas, a outros evangelistas, a outros pastores e mestres (...)”
Paulo, o Apóstolo dos Gentios, refere-se, naturalmente, ao
Cristo, representado no texto pelo pronome “ele”, identificando o sujeito da
frase. Já a palavra “concedeu”, assim entre aspas, é uma referência ao verso 19
do Salmo 68 e com ela Paulo fala sobre a variedade vocacional dos servidores de
Jesus, levando-nos a entender que cada um de nós, na Terra, está cumprindo tarefas
próprias da capacidade pessoal e profissional de acordo com o compromisso
previamente firmado com o Governador do planeta, o Cristo Cósmico a quem
servimos.
A Teologia católica trata das vocações quase que unicamente
do ponto de vista religioso e em sua expressão material apenas, tornando padres
os homens “vocacionados” e freiras as mulheres devotadas à vida contemplativa.
Mas o termo é seguramente muito mais abrangente, alcançado toda e qualquer atividade
humana, que deve ser realizada de acordo com o sentimento religioso,
sacralizando-se a função executada, porquanto todo trabalho deve corresponder à
Lei de Progresso instituída pelo Senhor dos Mundos, tal como se lê no Gênese: “Comerás
o pão com o suor do teu rosto”.
Em O Livro dos Espíritos (1), Allan Kardec, questionando
os Espíritos Superiores a respeito de tal assunto, recebeu deles a informação
de que as vocações estão ligadas à natureza das provas que o próprio Espírito
escolhe antes de reencarnar e também à consecução dos objetivos da vida em
sociedade, de modo que as profissões são um meio de se atingir o progresso
geral pela cooperação mútua.
O Espírito Emmanuel, falando-nos em nome do Espiritismo pela
pena mediúnica de Chico Xavier, afirma, por sua vez, no livro Caminho,
Verdade e Vida (2), que todos nós, na Terra, reencarnamos por especial
deferência do Cristo, cada um fazendo as experiências que nos competem no país
e na cultura que escolhemos ou para os quais fomos direcionados – uma vez que
nem toda reencarnação é voluntária – com vistas ao próprio burilamento moral.
Por tal razão, o mesmo Emmanuel, antigo mentor espiritual do médium mineiro,
declara, na obra citada, ser a atividade religiosa a mais importante dentre
tantas de que nos ocupamos na face escura do planeta.
Não se deve, porém, entender a expressão de Emmanuel como a
atenção vocacional do ponto de vista teológico, mas aplicá-la ao modo como
realizamos as tarefas que são de nossa responsabilidade, desde a mais simplória
até as mais elevadas no âmbito da sociedade, porquanto todas as funções são
importantes para o progresso tanto individual quanto coletivo. Assim é que,
como nos informa um “koan” (3) do zen budismo, devemos fazer o mínimo com todo
devotamento possível para que Deus nos alcance com o máximo de misericórdia.
Notas
(1) Edição FEB.
(2) Idem.
(3) Um koan é uma narrativa, diálogo, questão ou afirmação
no budismo zen que contém aspectos que são inacessíveis à razão. Desta forma, o
koan tem como objetivo propiciar a iluminação espiritual do praticante de
Budismo Zen.
Comentários
Postar um comentário
Abra sua alma!