Francisco Muniz
“Respondia-lhes: ‘Quem tiver duas túnicas, reparta-as com aquele que não tem, e quem tiver o que comer, faça o mesmo’.”
Essas palavras correspondem ao texto do versículo 11 do
capítulo 3 do Evangelho de Lucas, as quais procuraremos interpretar neste dia 3
de novembro. O evangelista cita, aí, o que o profeta João, aquele “que clama no
deserto” (*), imprecava às multidões que compareciam à região do rio Jordão a
fim de serem batizadas. Numa muito bem fundamentada reportagem acerca daqueles
tempos, Lucas, que não era judeu e não conhecera Jesus, relata ter sido no ano décimo
quinto do império de Tibério que se deu tal episódio, quando Pôncio Pilatos era
o governador da Judeia. E dá mais detalhes logo na abertura do capítulo, o
primeiro da segunda parte desse registro, intitulado “Preparação do ministério
de Jesus”, detalhes esses que não precisamos declinar aqui, por ora.
Vamos, pois, ao que pode nos interessar, analisando a narrativa
colhida na Bíblia de Jerusalém.
É, ainda e mais uma vez, um apelo ao desprendimento e à caridade
que o Batista nos faz, em seu trabalho de preparação das veredas que o Cristo
trilharia mais tarde, repetindo incessantemente a lição do desapego necessário para
o acesso ao Reino de Deus. Sim, seis séculos depois de Elias, João voltava a
proclamar o arrependimento àqueles corações endurecidos pela ignorância,
preparando-os para a chegada do Messias. E como as multidões o questionassem,
ele as instruía acerca da caridade que deveriam praticar, desfazendo-se do que
tivessem em excesso, além do básico de que de fato necessitavam, beneficiando
os mais pobres, os desafortunados e carentes.
A caridade, pela abnegação que promove a renúncia de si
mesmo e o desprendimento quanto às posses materiais, terrenas, é a virtude por
excelência, representativa do amor que Deus, o Pai amantíssimo, demonstra a cada
um de seus filhos e que o Cristo ensinou através de exemplos concretos. Observando
tais demonstrações é que Allan Kardec, codificador da Doutrina Espírita, cunhou
o lema “Fora da caridade não há salvação”, indicando o caminho que devemos
percorrer para vencermos a inferioridade moral que nos caracteriza na Terra.
Nesta época, em que as situações decorrentes do processo de
transição planetária têm sido de intensificação das provas individuais e
coletivas, somos todos solicitados a prestar nosso auxílio aos irmãos afetados
pelas enfermidades e pela fome, além das dores provocadas pelas ocorrências climáticas.
Aqui e ali, perto ou longe de nós há alguém desesperado implorando o socorro
dos Céus, podendo ou não clamar por esse auxílio. Como sabemos, é através das
criaturas de boa vontade que a Providência divina socorre os mais infortunados
e por esse motivo devemos, nós que escolhemos servir ao Cristo incondicionalmente,
levantar de nossa posição confortável e nos movimentarmos na direção dos sofredores.
É preciso agirmos o quanto antes cumprindo nossas tarefas
relativamente aos mandamentos da Lei que Jesus resumiu no “amar a Deus
sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo”, tendo em mente o que o
Mestre ensinou a seus discípulos, conforme lemos em Lucas 17:7-10: “Qual de
vós, tendo um servo ocupado na lavoura ou guardando gado, lhe dirá, quando ele
voltar do campo: Vem já sentar-te à mesa; e que antes não lhe dirá: Prepara-me a ceia, cinge-te e serve-me, enquanto eu como e
bebo; e depois comerás tu e beberás? Porventura agradecerá ao
servo, por ter este feito o que se lhe havia ordenado? Assim também vós, depois
de haverdes feito tudo o que vos foi ordenado, dizei: Somos servos inúteis, fizemos o que devíamos fazer”.
(*) Referência à profecia de Isaías anunciando o arauto do
Messias.
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