Esta data no Evangelho (28 de novembro)

Francisco Muniz




“A verdadeira bem-aventurança” é a epígrafe sob a qual se coloca o versículo 28 do capítulo 11 do Evangelho de Lucas, que comentaremos neste chuvoso dia 28 de novembro, prosseguindo nosso estudo em torno de algumas passagens do Novo Testamento, tencionando aprofundar nosso entendimento quanto às lições de Jesus. Eis, portanto, o texto, colhido na Bíblia de Jerusalém:

“Ele, porém, respondeu: ‘Felizes, antes, os que ouvem a palavra de Deus e a observam’.”

A expressão do Messias, que aproveitava todas as ocasiões para transmitir as lições referentes ao Reino de Deus, deve-se ao elogio que uma certa mulher lhe fizera – e à Mãe Santíssima também! – após ele ministrar um ensinamento acerca do que hoje entendemos como obsessão. Disse ela (Lucas 11:27): “Felizes as entranhas que te trouxeram e os seios que te amamentaram!”

Faz todo sentido a observação do Nazareno, porque muitas mães geraram e nutriram crianças que depois, crescidos, as renegaram, desrespeitaram ou simplesmente ficaram indiferentes ao esforço que elas despenderam em benefício desses filhos ingratos. No entanto, os que ouvem e observam, isto é, praticam a palavra ou vontade de Deus, cumprindo os mandamentos, inclusive aquele que impõe-nos honrar pai e mãe, esses são felizes – e a felicidade das almas não é medida segundo os valores do mundo!

Eis, portanto, a grande lição: além de conhecer, ouvindo ou lendo a palavra de Deus, é preciso pô-la em prática, pois de nada vale à economia espiritual possuir um recurso indispensável à nossa evolução e não fazê-lo produzir. E todo recurso só pode ser desenvolvido mediante sua partilha com os demais, conforme Jesus explica na Parábola dos Talentos: seria mais vantajoso ao servo inútil que entregasse seu único talento nas mãos dos banqueiros e seu senhor teria ao menos os juros.

Assim, entendamos que o sentido da vida é a partilha, a divisão do que temos, por empréstimo divino, com os menos afortunados. A esse respeito, consideremos que temos, além do conhecimento do que podemos entender como a verdade, também recursos materiais e, muito mais, a oportunidade de fazermos a diferença na vida de alguém. Já vimos aqui, em nosso estudo, que a presença dos pobres é um estímulo para praticarmos a caridade, fazendo eco ao lema do Espiritismo: “Fora da caridade não há salvação”.

Na qualidade de novos discípulos do Cristo, os trabalhadores da última hora, segundo as orientações dos Espíritos Superiores por Allan Kardec (*), nós, espíritas, herdamos o conhecimento do Cristianismo primitivo que a Terceira Revelação nos resgatou. Com isso somos chamados a desenvolver o senso de responsabilidade para o bom cumprimento dos deveres que nos cabem. A esse respeito, vale recordar o precioso alvitre do Espírito Emmanuel, para quem “se a bondade divina já nos permite pisar na seara espírita, não nos limitemos à prece”.

Além de elevar o pensamento a Deus, em sentidas orações por nossos irmãos desvalidos, é imprescindível santificar nossas mãos e voz no serviço abnegado de alimentar, vestir, abrigar, instruir cada um deles, na medida de nossas possibilidades. Fazermo-nos úteis no serviço do Cristo, junto a seus emissários, invisíveis ao nosso lado, é ampliarmos o conceito da ciência e da filosofia espíritas, que nos exige a cooperação em prol da ação espiritual em nosso favor, assim engrandecendo-nos aos olhos da Divindade.

(*) Ver O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. XX, item 2.


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