Esta data no Evangelho (26 de novembro)

Francisco Muniz // 




Neste dia 26 de novembro, nosso estudo nos leva a considerar o versículo 11 do capítulo 26 do Evangelho de Mateus, colocado, na Bíblia de Jerusalém, sob a epígrafe “A unção em Betânia”, tratando de um episódio bastante conhecido e sobre o qual muito se discute. É quando Jesus e alguns discípulos vão cear na casa de Simão, o leproso – talvez aquele leproso que, dentre dez curados da lepra, voltou para agradecer ao Messias. Na ocasião, uma mulher adentra o salão para lavar os pés de Jesus com suas lágrimas e enxugá-los com os fartos cabelos, causando perplexidade entre os presentes. Eis o texto:

“Na verdade, sempre tereis os pobres convosco, mas a mim nem sempre tereis.”

A frase, em tom premonitório, é do próprio Cristo e indica tanto as condições evolutivas do planeta quanto a natureza das provações características dos Espíritos aqui estacionados, em estágio de purificação. É a resposta dada ao comentário dos discípulos, possivelmente de Judas, tesoureiro do colégio apostolar, argumentando o gasto do perfume caríssimo que a tal mulher derramou sobre os cabelos do Nazareno (eis a unção!), porquanto poderia ser vendido e o dinheiro alimentaria muitos pobres. O Mestre, porém, os estimulava a aproveitarem cada instante em sua companhia, pois estava próximo o dia em que ele se despediria da esfera física, de modo que perder tempo com questões que não lhes competia resolver era desnecessário.

Os pobres, disse ele, sempre os teremos e é nosso dever tentar compreender o alcance dessas palavras, reveladoras de uma situação que os tratados de sociologia apontam como consequência das desigualdades sociais. O Espiritismo, porém, como ciência auxiliar das ciências da Terra, que só apreciam os efeitos materiais sem apurar as causas transcendentais, oferece-nos as respostas mais satisfatórias para o entendimento acerca de tão inquietante questão. Assim é que na Codificação espírita, especialmente em O Livro dos Espíritos e em O Evangelho Segundo o Espiritismo, somos informados de que o egoísmo é, ao lado do orgulho, uma das maiores chagas da Humanidade, responsável pela doença chamada materialismo, que a Doutrina dos Espíritos veio combater.  

Discorrendo acerca das desigualdades das riquezas (*), Allan Kardec pondera que nem todo mundo pode ser rico e que a riqueza é dada por Deus a mãos capazes de fomentar o progresso geral. Diz também o Codificador que os homens “não são igualmente inteligentes, ativos e laboriosos para adquirir, nem moderados e previdentes para conservar”, de modo que os pobres, parcela da população mundial representativa dos Espíritos em expiação, serão presença observável entre nós por muito tempo ainda. Eles são necessários à economia espiritual, portanto; primeiro, em razão deles próprios, pois precisam(os) aprender a lição da penúria, da escassez e da subalternidade; depois, para aprendermos a praticar a caridade, sabendo descer de nosso patamar de orgulho e egoísmo para auxiliá-los na medida de nossas possibilidades, mitigando-lhes os males originados pela pobreza.

Os pobres sempre estarão conosco, enfim, para que nos lembremos do Cristo e façamos a eles o que o Filho do Homem sugere fazermos a ele próprio: “Todas as vezes que fizestes isso a um destes mais pequenos, que são meus irmãos, foi a mim que o fizestes” (Mateus 25:40). Aprendemos com Kardec que “fora da caridade não há salvação”, como reza o lema do Espiritismo; desse modo, precisamos nos exercitar nessa tarefa até que nosso egoísmo não seja mais que uma pálida lembrança do que empanava o brilho de nossa personalidade. Uma vez despojados desse empeço, cumpriremos em nós mesmos aquela bem aventurança que o Mestre nazareno pronunciou no Sermão do Monte: “Bem aventurados os pobres de espírito, porque deles é o Reino dos Céus!” (Mateus 5:3-9)

(*) O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. XVI, item 8.


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