Francisco Muniz
O Natal, considerada a maior festa da cristandade,
aproxima-se, propiciando renovadas reflexões acerca de nossa presença ao lado
do Cristo, na condição de novos discípulos e seguidores de suas propostas
revolucionárias. Nesse sentido, o comportamento tradicional, isto é, aquele ao
qual nos acostumamos, repetindo antigos hábitos, vem à baila ante o convite quanto
à transformação de nós mesmos a fim de melhor participarmos do banquete
espiritual que o Divino Pastor preside. É em razão disso que nos dispomos hoje,
dia 25 de novembro, a comentar o versículo 25 do capítulo 11 de nossa já conhecida
primeira Epístola de Paulo aos Coríntios:
“Do mesmo modo, após a ceia, também tomou o cálice,
dizendo: ‘Este cálice é a nova Aliança em meu sangue; todas as vezes que dele
beberdes, fazei-o em memória de mim’.”
A Bíblia de Nazaré põe esse texto sob a epígrafe “A Ceia do
Senhor”, referindo o comentário em tom de admoestação que o Apóstolo dos
Gentios sobre o comportamento dos integrantes da igreja de Corinto, condenando
suas assembleias. “Quando, pois, vos reunis, o que fazeis não é comer a Ceia do
Senhor; cada um se apressa por comer a própria ceia; e enquanto um passa fome,
o outro fica embriagado”, disparou Paulo, lamentando uma prática observada
ainda em nossos dias. O que o apóstolo quer nos dizer é que saibamos partilhar
o que nos foi dado por empréstimo divino, correspondendo assim ao esforço de
Jesus formalizando a nova Aliança de Deus conosco, seus filhos amados e também
ingratos.
O Catolicismo tomou ao pé da letra as palavras e as imagens
usadas por Jesus e as cristalizou no ritual da missa, escondendo no símbolo o
sentido espiritual do sacrifício que o Mestre ensinava durante a Ceia,
representando as condições da alma durante a encarnação: carne e sangue, isto
é, corpo material e Espírito imortal, porquanto o sangue, que é o que vitaliza o
corpo, é a perfeita representação da essência espiritual do Ser, conforme
bebemos em Sabedoria do Evangelho (*). O ensinamento verdadeiro se
perdeu no ritual e no dogma e assim bilhões de cristãos seguem sem compreender
a lição da Ceia do Senhor, distraindo-se perigosamente na contemplação do símbolo
sem penetrar-lhe os segredos.
No entanto, esse segredo está, desde aqueles tempos,
revelado à vista e à audição de quem tem olhos de ver e ouvidos de ouvir,
conforme pregou o Nazareno, explicando que o conhecimento da verdade nos mantém
livres dos empeços ao raciocínio e, consequentemente, da prisão da
inferioridade que é o culto à matéria. O nome dessa prisão é apego, sendo o
desapego, portanto, o segredo que nos dá a chave para a libertação do Espírito,
através dos caminhos da partilha da Verdade, como faz o Espiritismo, tornando
cada vez mais representativos e saborosos nossos encontros. Realizadas hoje
virtualmente, nossas reuniões de estudo são mais ricas, proporcionando muito
mais que antes o desenvolvimento das qualidades individuais, aproximando-nos do
real sentido de partilha dos bens espirituais, que não devem ser conspurcados pela
prosaica ingestão de iguarias.
Ainda que a força do hábito, da tradição familiar e dos
costumes sociais pesem bastante na economia espiritual, impedindo-nos de encetar
voos mais altos na compreensão e vivência dos ensinos do Evangelho, na
atualidade o esforço dos Espíritos Superiores, qual a obra da Benfeitora Joanna
de Ângelis com sua Série Psicológica, aponta para a necessidade cada vez mais
imperiosa de domarmos o ego fazermos com que ele trabalhe em nosso favor. Para
isso nos são dadas as ferramentas necessárias à aplicação das muitas
disciplinas que resultam em nossa reforma íntima, pelo conhecimento de nós
mesmos. Só assim procederemos com eficácia à realização da Ceia do Senhor, que
em verdade acontece dentro de nós e não em redor de uma mesa ou diante de um
altar num templo qualquer.
(*) Obra de Carlos Torres Pastorino em oito volumes; ed.
Sabedoria, RJ.
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