Francisco Muniz //
“O princípio das dores” é a epígrafe sob a qual o
versículo 11 do capítulo 24 do Evangelho de Mateus é apresentado na Bíblia de
Jerusalém, subsidiando os comentários que faremos hoje, dia 24 de novembro, no
âmbito de nosso estudo de algumas passagens do Novo Testamento. Eis o texto,
que abordaremos sob a luz da Doutrina Espírita:
“E surgirão falsos profetas em grande número e enganarão
a muitos.”
Allan Kardec, o codificador do Espiritismo, considera que
profeta é todo aquele que tanto prevê o futuro quanto, principalmente, ensina
uma verdade. Entendemos, uma vez esclarecidos pela Doutrina dos Espíritos, que
os primeiros são médiuns ostensivos, enquanto os demais dispõem, no máximo, da
faculdade intuitiva, levando-se em consideração o conceito de Kardec acerca da
mediunidade, revelando em O Livro dos Médiuns que todos os homens são
médiuns, em maior ou menor grau (*). É de se notar que já vivemos os dias de dores
acerbas previstos pelo Cristo há mais de dois mil anos, assim como é fato que
os falsos profetas sempre estiveram entre nós, explorando a credulidade dos
incautos e tirando-lhes até mesmo a dignidade, se tal fosse possível, através
dos enganos que promovem.
E eles não são apenas os falsos religiosos, mas todo aquele
de vende ilusões muitas vezes por expedientes sub-reptícios e criminosos, uma
vez que a atividade religiosa, mesmo aquelas que se escondem por trás de
fachadas “respeitáveis”, são consentidas pela lei dos homens. Não faz muito
tempo, eu quase caí num desses muitos golpes virtuais e a angústia sentida,
misto de terror, arrependimento e decepção – ou seja, o orgulho (amor próprio)
ferido – foi indescritível. Essa experiência me fez entender por que um amigo
caiu em depressão após ter perdido todas as economias guardadas num banco após
ter sido enganado por um desses falsários.
Entretanto, aqueles que exploram a fé alheia roubam algo muito mais precioso que dinheiro ou bens materiais. Jesus nos recomenda (Mateus 10:28-33) não temermos quem mata o corpo, mas não podem matar a alma; antes, temamos aquele que pode fazer perecer no inferno tanto a alma quanto o corpo. Sabendo que o verbo “temer”, aí, tem o sentido de tomar cuidado, concluímos que, se o inferno é a condição da consciência atormentada, é nessa situação que os enganadores nos colocam, fazendo-nos atormentar pela culpa de termos cedido à invigilância, à incúria, caindo perante as tentações do caminho, movidos muitas vezes pela cobiça, pela ilusão dos ganhos fáceis...
Nestes tempos, vemos aqui e ali a atuação dos falsos
profetas nos mais diversos campos da atividade humana, utilizando-se dos mais
diversos meios que a inteligência lhes põe à disposição. Em O Evangelho
Segundo o Espiritismo (2), o Espírito Ferdinando informa que “a inteligência
é rica de méritos para o futuro, mas com a condição de ser bem empregada”. O
mau uso dessa faculdade resulta do mal presente nos dois lados da questão uma vez
que os enganados, precisando aprender a usar o discernimento, de alguma sorte
precisam passar por essa prova, com a finalidade de escolher sempre o que é o
melhor para si e para os demais. Por isso, nessa lição do ESE, Ferdinando
ajunta: “Se todos os homens dotados se servissem dela [a inteligência] segundo
os desígnios de Deus, a tarefa dos Espíritos seria fácil para fazer a
Humanidade avançar”.
Notas
(1) Capítulo XIV – Dos médiuns, item 159: “Todo aquele
que sente, num grau qualquer, a influência dos Espíritos é, por esse fato,
médium. Essa faculdade é inerente ao homem; não constitui, portanto, um
privilégio exclusivo. Por isso mesmo, raras são as pessoas que dela não possuam
alguns rudimentos. Pode, pois, dizer-se que todos são, mais ou menos,
médiuns.
(2) Cap. VII, item 13: Missão do homem inteligente na Terra.
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