Francisco Muniz //
Os “preparativos da ceia pascal” retornam aos nossos estudos
acerca de passagens do Novo Testamento e desta vez comentaremos o versículo 11
do capítulo 22 do Evangelho de Lucas, sob as luzes da Doutrina Espírita. Na oportunidade
anterior, refletimos sobre Jesus ter indicado o local onde seria realizada aquela
que convencionou-se chamar de “última ceia”. Agora, veremos que o Nazareno
instrui seus discípulos sobre como requisitar a casa destinada àquele encontro:
“Direis ao dono da casa: ‘O Mestre te pergunta: onde está
a sala em que comerei a páscoa com os meus discípulos?’”
Aos discípulos é sempre de grande importância a comunhão com
seu Mestre, especialmente se esse mestre tem a grandeza do Cristo. Nesses
momentos é que eles melhor recebem os ensinamentos, comendo, saboreando,
internalizando as grandiosas lições concernentes ao futuro glorioso que tanto
se almeja, tanto naqueles tempos recuados quanto hoje, quando as condições de
vida no planeta são postas à prova mais intensamente. Tal é o significado dessa
ceia pascal, ocasião em que o Messias fez o derradeiro anúncio de sua paixão e
deu a todos o imorredouro exemplo de humildade lavando os pés de cada um deles
e observando que será grande no Reino dos Céus quem se fizer o servidor de
todos.
É preciso, porém, recorrer ao dono da casa para que ele
indique a sala onde se dará o banquete representado pela comunhão com a
dimensão divina, onde o Cristo reina em toda sua glória. Essa sala, entendemos,
não é outra senão nosso coração, aquele lugar secreto referido por Jesus ao nos
ensinar como orar (*), como estabelecermos nossa ligação com o Pai supremo,
ligação essa cada vez mais necessária ao nosso bem viver. A casa, então, será o
corpo que momentaneamente nos abriga na vilegiatura carnal, de modo que o “dono”
é mesmo o Espírito que, encarnado, atende pela alcunha de alma, conforme o
esclarecimento de Allan Kardec em O Livro dos Espíritos.
Ora, a festa da Páscoa naquela distante Palestina de dois
mil anos atrás se realizava anualmente e a Tradição segue obedecendo esse
tempo. No entanto, a necessidade de mantermos nossa comunhão com as dimensões
mais elevadas da vida, no campo espiritual da existência, é constante, de modo
que a todo momento, nas situações felizes quanto nos momentos aflitivos,
devemos cultivar o sentimento de religiosidade, estreitando nossa ligação com o
Pai, com o Cristo e seus emissários junto a nós, a fim de vivermos efetivamente.
Tal é o entendimento das palavras do Espírito Emmanuel, para quem a atividade
mais importante que desempenhamos na Terra é a religiosa, no sentido mais
espiritual possível.
Portanto, hoje, mais que ontem e, seguramente, menos que
amanhã, é dia de, mais uma vez, repetirmos aquela ceia pascal, recordando os ensinos
imortais de Jesus e renovando intimamente o compromisso que de há muito estabelecemos
com o Cristo. Esse compromisso diz respeito a aproveitarmos todas as
oportunidades que a Bondade divina nos concede para realizarmos em nós mesmos
as aquisições de valores compatíveis com nossas necessidades evolutivas. Assim
devem proceder, conscientemente, os seguidores de Jesus, especialmente aqueles
que nos dizemos trabalhadores da última hora, os novos discípulos que,
orientados pela Doutrina Espírita, temos deveres muito bem delineados para o
trabalho de evangelização própria e dos companheiros do caminho.
(*) “Mas tu, quando orares, entra no teu quarto e,
fechando a porta, ora a teu Pai que está em secreto; e teu Pai, que vê em
secreto, te recompensará.” (Mateus 6:6)
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