Esta data no Evangelho (21 de novembro)

Francisco Muniz // 




O versículo 21, correspondente a este dia 21 de novembro, do capítulo 11 do Evangelho de João é parte do Epílogo que o evangelista coloca em seu registo dos feitos de Jesus, desta feita sob a epígrafe “Aparição à margem do lago de Tiberíades”, sobre quando o Ressuscitado se mostrara a sete dos discípulos (*) que haviam saído para pescar. O texto está assim grafado na Bíblia de Jerusalém:

“Simão Pedro subiu então ao barco e arrastou para a terra a rede, cheia de cento e cinquenta e três peixes grandes; e apesar de serem tantos, a rede não se rompeu.”

Passaram a noite no mar e ao amanhecer do dia viram Jesus na praia, sem o reconhecerem, porém. Perguntou-lhes o Mestre se tinham algum peixe e ante a resposta negativa pediu-lhes que lançassem a rede à direita do barco, o que fizeram – e a quantidade de peixes era tanta que não tinham força para puxá-la. Foi João, “aquele discípulo que Jesus amava”, que identificou a personagem em terra: “É o Senhor!” De imediato, Pedro vestiu suas roupas, pois estava nu, e atirou-se ao mar, nadando depressa ao encontro de Jesus, deixando os demais companheiros trazerem o barco, arrastando a rede com os peixes. Uma fogueira estava acesa na praia e o Rabi pede que tragam alguns dos peixes apanhados – e assim chegamos ao texto que analisaremos.

Nota de rodapé da Bíblia de Jerusalém faz-nos saber que “a pesca com rede representa, nos Sinóticos [isto é, nos evangelhos de Lucas, Marcos e Mateus], a vinda do Reino dos Céus ou a missão dos apóstolos”, principalmente a tarefa apostólica dirigida por Pedro, porquanto o Messias havia dito a Simão: “Tu és pedra e sobre ti edificarei a minha igreja” (Mateus 16:18-20). E como o Evangelho de João encerra muitos simbolismos, suas palavras certamente terão outro significado além do que a princípio informam, de modo que devemos lê-las nas entrelinhas, procurando compreender seu sentido verdadeiro, uma vez que, como diz Paulo de Tarso, a letra mata e o Espírito vivifica.

A rede, portanto, era forte e não se rompeu, apesar da quantidade de peixes, chamando-nos a atenção para o número de cristãos no mundo, hoje orçando por volta de 2,3 bilhões de crentes das mais diversas denominações. Isto prova que as ideias do Cristo encontraram receptividade em muitas mentes e corações, embora suas propostas de transformação moral não tenham sido muito bem assimiladas, pois é necessário, como no exemplo do velho Pescador, vestir uma roupa adequada para o encontro com o Senhor: cobrir nossa nudez pode significar a abdicação de nossa ignorância, assumindo uma atitude mais consentânea com os ideais de renovação, para então atirarmo-nos ao mar dos novos conhecimentos, agora representados pelo Espiritismo, que resgata-nos a pureza do Cristianismo primitivo.

É nesse encontro na praia, quando todos comeram em silêncio, sem ousarem perguntar se aquele era mesmo Jesus, porquanto o soubessem, que o Filho do Homem, em quem hoje apontamos o guia e modelo que toda a Humanidade deve seguir e imitar, fez a Pedro, por três vezes, a famosa pergunta: “Tu me amas?”, a cuja resposta afirmativa aconselhou: “Apascenta minhas ovelhas”. O Senhor, dessa maneira, corrigia suavemente a tripla negação do apóstolo quando de seu julgamento no Sinédrio, e embora o Pescador se entristecesse ante a insistência, reafirmou seu compromisso de seguir pescando almas, apascentando as ovelhas e conduzindo-as para o divino aprisco...

(*) João nomeia apenas cinco: além de si próprio, seu irmão Tiago, Pedro, Natanael e Tomé, também chamado de Dídimo (gêmeo, em grego).


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