Francisco Muniz
Hoje, dia 20 de novembro, a Bíblia de Jerusalém nos ofereceu a Epístola a Filemon, na qual Paulo, o Apóstolo dos Gentios, faz uma belíssima declaração de amizade. Será este um trabalho diferente no âmbito de nosso estudo de passagens do Novo Testamento, porque a carta a Filemon é curta, não sendo dividida em capítulos, de forma que comentaremos o texto a partir do versículo 20. Ei-lo:
“Sim, irmão, eu quisera mesmo abusar da tua bondade no
Senhor! Dá este conforto a meu coração em Cristo.”
Filhos do mesmo Pai, Deus, nosso criador, todos os homens
somos irmãos e só por esta razão deveríamos viver em clima de fraternidade, não
fossem nossos instintos primitivos – responsáveis por nossas paixões inferiores
– e nossas emoções descontroladas, que nos fazem entrar constantemente em rota
de colisão uns com os outros. No entanto, para facilitar nossa convivência, o
Todo Misericordioso nos criou sob a energia transformadora do amor e por este
motivo nossa grande tarefa no mundo não é outra: além de nos reconhecermos
irmãos, herdeiros da Divindade, para, de fato, merecermos essa herança é
preciso nos tornemos amigos, ou seja, que amemo-nos uns aos outros.
Essa nossa necessidade motivou a vinda do Cristo à face
escura do planeta para realizar, ensinando e demonstrando, a vontade do Pai
Altíssimo, mostrando aos homens, seus irmãos menores, como darem provas dessa grande
virtude que é a amizade. Ele é, desde sempre, o Amigo inigualável, o Amigo de
todas as horas, o Amigo infalível, o Amigo divino que nos guia pelos descaminhos
do mundo conduzindo-nos ao caminho da salvação para o encontro das alegrias
celestiais, sendo também o modelo ímpar de nossa impostergável mudança de
comportamento. Assim como até mesmo a Judas, que o trairia, ele amou como a um
amigo, muito mais aos outros: os infortunados, os perseguidos, as pessoas de má
vida.
E foi imbuído desse espírito de amizade que Paulo de Tarso escreveu,
de sua cela na prisão, a seu amigo Filemon, identificando-se como “prisioneiro de
Cristo Jesus”, porquanto o meigo Rabi, espiritualmente, conduzia as ações de
seu tutelado. O apóstolo pedia em favor de um outro amigo, Onésimo (*), que
Paulo considerava verdadeiramente como a um filho “que eu gerei na prisão”. Ele
sabia que seus dias na Terra estavam se encurtando e não queria deixar seu
amado Onésimo sem amparo e assim recorre ao antigo senhor deste: “Mando-o de
volta a ti; ele é como se fosse meu próprio coração”. E mais: Paulo se
compromete a pagar pelo favor de Filemon em decorrência das ações do passado, o
que só pode se dar pela reencarnação: “E se ele te deu algum prejuízo ou te
deve alguma coisa, põe na minha conta.”
Dessa forma agem os amigos cujos sentimentos sejam sinceramente
impulsionados pelo amor desinteressado que o Cristo comunicou-nos, fazendo-nos
capazes de tais demonstrações, cumprindo assim o maior mandamento da Lei de
Deus, sobre o qual Jesus disse ser a segunda parte – amar ao próximo como a si
mesmo – semelhante à primeira: amar a Deus sobre todas as coisas. Para tanto a
bondade do Pai nos faz nascer e conviver em família, inicialmente, e depois
experimentar em sociedade, em ambientes como o escolar e o laboral, o tempo
todo criando e recriando vínculos de afeto, formando laços de amizade, apertando
ou afrouxando ocasionalmente esses laços até aprendermos a viver conforme a
vigorosa vibração desse sentimento, para gáudio de nós mesmos. Amemo-nos, pois!
(*) Esse nome grego significa “útil” ou “rentável”,
indicando a condição do antigo escravo de Filemon que Paulo convertera na
prisão.
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