Esta data no Evangelho (2 de novembro)

Francisco Muniz


Escribas e fariseus eram, ao tempo de Jesus, desses políticos, ainda que religiosos, resistentes a todo movimento de renovação. Acomodados ao seu tradicional modo de pensar e agir quanto à interpretação da Lei, não puderam compreender que o Messias anunciado pelas antigas profecias estava ali com eles e tudo fizeram para comprometer o trabalho do Cristo, duvidando sempre das palavras e dos fenômenos que o Mestre realizava aos olhos de todos, em nome de Deus.

Assim dizemos porque hoje, dia 2 de novembro, data em que a cristandade homenageia aqueles que partiram de volta ao mundo espiritual, comentaremos o versículo 11 do segundo capítulo do Evangelho de Marcos, que trata da “cura de um paralítico”. A lição é belíssima e rica de significados que procuraremos interpretar sob a luz da Doutrina Espírita, que vem a ser, segundo Allan Kardec, a chave com a qual desvendamos os mistérios do Novo Testamento. Eis como a Bíblia de Jerusalém nos apresenta o texto do citado versículo, mais uma vez “quebrado”:

“(...) eu te ordeno – disse ele ao paralítico – levanta-te, toma o teu leito e vai para a tua casa.”

Quem ordena é o Cristo, que tinha e tem autoridade moral e espiritual para perdoar os “pecados” do paralítico em questão, desde que este já tenha completado seu processo provacional, porquanto as leis de Deus, sábias e perfeitas, que o Messias veio cumprir, não podem ser derrogadas. Entretanto, fariseus e escribas testemunhas do episódio secretamente questionaram a atitude do Rabi nazareno, o que o levou a remover a momentânea paralisia das pernas daquele homem.

Para nós, esclarecidos pelo Espiritismo, é mais um estímulo ao trabalho profícuo que devemos realizar em função de nosso crescimento espiritual. É necessário ouvirmos a voz enérgica do Cristo ecoando continuamente no âmago de nossa consciência a fim de levantarmos de nosso imobilismo e levarmos para casa o que representa o conforto de nossas almas. Sim, aqui se trata de tomarmos providências com vistas à viagem de volta ao nosso ambiente de origem, o mundo espiritual, para a qual nossa principal bagagem deve ser o que nos garanta o refrigério moral, o leito que nos acolherá na nova morada.

O Espiritismo, dizemos, é um curso de educação para a morte, mas como esta de fato não existe, o curso é de reeducação para a vida – uma vez que precisamos da reencarnação – e a ordem vem no sentido de despertarmos depressa para essa verdade e fazermos os esforços necessários para transformarmos nossa condição enfermiça, aproveitando condignamente os benefícios que o Senhor nos concede.

O leito do paralítico, convenhamos, representa tudo que lhe foi possível conquistar durante a vilegiatura carnal, de modo que será tudo quanto ele – e todos nós! – terá que apresentar no tribunal da consciência ao fazer o balanço de suas realizações durante a encarnação. Não nos será perguntado quem fomos na Terra, que títulos tínhamos nem o que acumulamos em nossos cofres; seremos questionados apenas quanto ao que fizemos em favor de nós mesmos e dos irmãos de caminhada. No entanto, vejamos a lição, se estivemos entregues à paralisia – a indiferença moral –, o que, de fato, fizemos de útil?

O trabalho é lei da vida e vige em todo o Universo. “Meu Pai trabalha desde sempre e eu também trabalho” (João 5:17-47), disse-nos Jesus, um dia, convidando-nos para seguirmos seus passos e, repetindo seus exemplos, construirmos uma situação melhor em nós mesmos, tanto agora quanto principalmente depois, na vida futura.

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