Esta data no Evangelho (19 de novembro)

Francisco Muniz




Diz Emmanuel, numa de suas mensagens através do médium Chico Xavier, que a verdadeira loucura é vivermos apenas a realidade material, uma vez que somos primordialmente espíritos. E loucura, segundo o dicionário, é insensatez, ou seja, falta de senso (juízo). Bem se vê que não tratamos aqui da loucura patológica, que em muitos casos é apenas fruto de distúrbios mediúnicos que a medicina não soube compreender. Essa introdução nós a fazemos para comentar hoje, dia 19 de novembro, o versículo 19 do capítulo 11 da segunda Epístola de Paulo aos Coríntios, na qual o Apóstolo dos Gentios é “constrangido a fazer o elogio próprio”, conforme a epígrafe do texto lido na Bíblia de Jerusalém:  

“De boa vontade suportais os insensatos, vós que sois tão sensatos!”

O que Paulo de Tarso faz, nesse auto elogio, é defender-se quanto às acusações que lhe foram imputadas – de fraqueza, ambição e loucura – por causa de sua adesão ao Cristo, às propostas revolucionárias que o Messias trouxe ao mundo sem que os homens as compreendessem. “Que ninguém me considere insensato”, pede Paulo, observando, porém, que o povo de Corinto (*) poderia apenas suportá-lo como insensato, “a fim de que também eu me possa gloriar um pouco”. É que os “malucos de pedra”, ou os “loucos mansos”, desses que transitam maltrapilhos pelas ruas das cidades, recebem da sociedade, da turba ignara que se julga com bastante sensatez, melhor tratamento do que os “visionários” pregadores das ideias novas, a exemplo do próprio Jesus.

Antes de Paulo, seu grande propagandista, o Cristo apresentou ideias “absurdas” como o perdão e o amor aos próprios inimigos, a renúncia aos bens materiais em proveito de um reino “hipotético”; pregou a mansuetude num meio onde a violência era o costume; sugeriu dar a outra face após receber uma bofetada... Só podia estar louco aquele Nazareno – era a reação dos judeus “sensatos” daquela época, bastante ciosos de sua interpretação da Lei mosaica, que instituiu o “olho por olho e dente por dente”. Mas, então, que bela loucura era aquela, de que brotava a esperança e nascia as mais puras aspirações quanto a um futuro de suaves harmonias e doçuras encantadoras naquele Reino onde todos são irmãos convivendo em clima de perfeita fraternidade!

No entanto, recordemos Emmanuel ao afirmar que loucura é pensar que a realidade material, transitória e impermanente, seja a expressão da verdade imutável. No item 14 do capítulo V de O Evangelho Segundo o Espiritismo, Allan Kardec tece comentários acerca do suicídio e da loucura salientando que tais males encontram na Doutrina dos Espíritos seu melhor antídoto. É claro que o Codificador fala da loucura patológica, mas o remédio também se aplica à doença resultante do comportamento arbitrário que leva à intolerância religiosa. Esse tipo de loucura, nascido das ideias materialistas, é um excitante do suicídio, como bem pontua Kardec: “Quando se veem homens de ciência se apoiarem sobre a autoridade do seu saber para procurarem provar aos seus ouvintes, ou aos seus leitores, que eles nada têm a esperar depois da morte, não os conduzem a essa consequência de que, se são infelizes, nada têm melhor a fazer do que se matar?”

“A propagação das ideias materialistas é, pois, o veneno que inocula em um grande número de pessoas o pensamento do suicídio, e aqueles que se fazem seus apóstolos assumem sobre si uma terrível responsabilidade”, continua Allan Kardec, identificando em nossa época a mesma enfermidade que de há muito acomete a humanidade “sensata”. Nós, espíritas, portanto, também padecemos da mesma “insensatez” paulina...

(*) Estima-se que essa cidade tinha cerca de 800 mil habitantes no tempo de Paulo. Foi a capital da Grécia romana, habitada principalmente por homens livres e judeus.


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