Francisco Muniz
É do Evangelho de Marcos o tema que a Bíblia de Jerusalém
nos oferece para os comentários de hoje, dia 18 de novembro, no âmbito de nosso
estudo de passagens do Novo Testamento sob a luz diáfana da Doutrina Espírita.
Assim, vamos ao versículo 18 do capítulo 11 daquele livro, que sob a epígrafe “Os
vendedores expulsos do Templo” informa o seguinte:
“Os chefes dos sacerdotes e os escribas ouviram isso e
procuravam como o matariam; eles o temiam, pois toda a multidão estava maravilhada
com o seu ensinamento.”
Médium de Deus e o Espírito mais puro que já pisou o chão
deste planeta, o qual governa desde que o formou, sob as ordens do Criador,
Jesus tinha plena noção de sua tarefa missionária e não se deixava impressionar
nem pelo volúvel maravilhamento das multidões nem pelas más disposições
daqueles que se mantinham nas zonas inferiores da esfera espiritual. Ele já
havia delineado o tempo em que se demoraria conosco, ensinando e exemplificando
a Verdade, de modo que, até chegar “sua hora”, ele não se deixaria prender pelos
asseclas do Sinédrio.
Os “poderosos” de ocasião o temiam justamente em razão desse
ensino, porquanto a verdade liberta e era interesse dos sacerdotes, de
comportamento farisaico, tanto quanto dos escribas, intérpretes da Lei, manter
a turba sob seu tacão, dominando as consciências. Ainda hoje isso acontece, com
a diferença de que os falsos religiosos da atualidade, identificados com os
falsos profetas de todos os tempos, utilizam-se das lições evangélicas para
exercer seu domínio sobre as mentes incautas. Assim manipuladas, as multidões ora
se “maravilham” com o que não podem compreender, ora se deixam conduzir por
representantes momentâneos do pensamento hegemônico no mundo, financiado pelo brilho
dourado das ilusões materialistas.
Nisso consiste a volubilidade das massas, que ao tempo de
Jesus foi capaz, admiradas com o que a Teologia católica batizou de “milagres”,
de festejar ruidosamente a entrada triunfal do Messias em Jerusalém,
cantando-lhe “hosanas”, e pouco tempo depois, compradas pelas moedas do Sinédrio,
engrossavam o coro dos sacerdotes que pediam a Pilatos que crucificasse o Justo,
libertando Barrabás em troca.
Está no homem essa divisão interna que o faz contraditório
em suas manifestações verbais e comportamentais. O Cristo, no entanto, conhecedor
dessa nossa característica, própria de nossa pouca moralidade e de nossa imensa
ignorância, veio em nosso socorro e pediu que fosse nosso falar o mais coerente
possível: “Seja, porém, o vosso falar: sim, sim; não, não;
porque o que passa disto é de procedência maligna” (Mateus 5:37), a fim de
nossas atitudes sejam cada vez mais equilibradas, desde que nosso pensamento
esteja unido ao seu: “Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração” (Mateus
11:29).
O ensinamento de Jesus, de fato, desperta a admiração de
quantos se dispõem a estudá-lo e, o quanto possível, deixarem-se transformar
pelas “palavras de vida eterna” que seus discípulos se encarregaram de
transmitir à Humanidade. Mas ele nada ensinou que contrariasse as Leis divinas,
que regulam todo o funcionamento do Universo, sendo, portanto, leis naturais
que nada têm de maravilhoso ou sobrenatural (*), como bem ponderou Allan Kardec
ao codificar a Doutrina dos Espíritos. Com o Espiritismo, nossa ignorância do
que somos e do que precisamos fazer para corresponder às lições do Cristo vai
aos poucos desaparecendo até que a sabedoria seja tudo que nos resta.
(*) Ver A Gênese, ed. FEB.
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