Francisco Muniz
Das muitas epígrafes constantes do capítulo 11 do Evangelho
de Lucas, a que corresponde ao versículo 17, que comentaremos hoje, dia 17 de
novembro, é “Jesus e Beelzebu” e trata do misto de espanto supersticioso e
incredulidade perniciosa dos escribas e fariseus ante os fenômenos que o
Messias protagonizava em benefício dos mais necessitados. E enquanto alguns
deles simplesmente duvidavam, outros, impertinentes, pediam-lhe “um sinal vindo
do céu” que atestasse a procedência divina daquele que se dizia Filho do Homem –
e o acusavam de agir em nome dos “poderes” infernais: “É por Beelzebu, o
príncipe dos demônios, que ele expulsa os demônios”. Vamos, portanto, examinar
o versículo 17, retirado da Bíblia de Jerusalém:
“Ele, porém, conhecendo-lhes os pensamentos, disse: ‘Todo
reino dividido contra si mesmo acaba em ruínas, e uma casa cai sobre outra’.”
De acordo com o pensador e médium indiano Jiddu Krishnamurti
(*), há quatro pecados capitais (a Teologia católica relaciona sete deles)
comuns a todos os homens: a maldade, a crueldade, a maledicência e a superstição,
os quais devemos escoimar de nossa personalidade através de exercícios bastante
significativos: contra a maldade, a prática do bem, incondicionalmente; contra
a crueldade, o espírito de tolerância e mansidão; contra a maledicência, o uso
de palavras enobrecedoras nascidas de um coração emocionalmente equilibrado; e
contra a superstição, o conhecimento paulatino da verdade que liberta. É claro
que tais disciplinas devem ser cumpridas na esfera individual sempre, nunca impondo-as
aos outros.
Mas a simples noção de “pecado” surge da observação do comportamento
alheio, porque demoramos a perceber que o mal está em nós mesmos, por isso
conseguimos enxergá-lo fora, uma vez que nossos olhos não estão treinados ou
capacitados para ver dentro. Por isso julgamos e, o que é pior, condenamos os
atos de nossos companheiros de jornada, posto que nossa pouca moralidade, ou
amadurecimento psicológico, faz-nos “esquecer” as recomendações do Cristo: “Com
a mesma medida que medirdes sereis medidos” (Marcos 4:21-25). Assim, não
precisamos, nós, espíritas, ficar incomodados com que digam termos parte com o
demônio, que o Espiritismo é uma doutrina demoníaca.
Com efeito, trazemos, como atesta o Messias na passagem que
ora analisamos, dois reinos no âmago de nosso ser, a consciência, representados pelo conhecimento do bem e do mal. Todo nosso esforço é no sentido de engrandecermos
o reino real, o do bem, em detrimento do outro, ilusório, o do mal, para o que
as disciplinas são imprescindíveis. Nossa principal incumbência é conhecermo-nos
o mais integralmente possível para que consigamos dominar completamente o mal
em nós, transformando-o definitivamente no bem que queremos experimentar com
frequência. Somente assim evitaremos essa divisão interna que em verdade é o
conflito íntimo em que nos estorcegamos presentemente.
É neste momento que vem muito a propósito a reflexão mais
aprofundada acerca da observação do Espírito Santo Agostinho na resposta à
questão 919 que Allan Kardec faz em O Livro dos Espíritos: “Qual o meio
prático mais eficaz que tem o homem de se melhorar nesta vida e de resistir ao
arrastamento do mal?” R – “Um sábio da Antiguidade vos disse: Conhece-te a ti
mesmo.” É assim que, com o indispensável auxílio do Cristo, expulsaremos de nós
os demônios da incredulidade e da intolerância, criados por nossa ignorância do
que corresponde à natureza das coisas, porquanto tudo está em Deus, menos as
prevenções humanas.
(*) Ver Aos Pés do Mestre, pelo espírito Alcione; ed.
Pensamento.
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