Francisco Muniz
Voltamos hoje, dia 15 de novembro, aos Atos dos Apóstolos
para comentarmos o versículo 11 do capítulo 14, no qual o evangelista Lucas
narra o discurso que o apóstolo Pedro fez em favor da ação de Paulo e Barnabé
junto os gentios. Nesse capítulo, Lucas chama a atenção para as controvérsias
suscitadas em Antioquia e Jerusalém acerca da circuncisão, que de acordo com
Moisés seria um ponto de fé que levava à “salvação” da alma. Mas com as novas
recomendações do Cristo, reinterpretando os antigos preceitos, tudo deveria
mudar de entendimento – e tal é o sentido do “discurso de Pedro”, colocado na Bíblia
de Jerusalém como epígrafe ao versículo que vamos comentar:
“Ao contrário, é pela graça do Senhor Jesus que nós
cremos ser salvos, da mesma forma como também eles.”
Não precisamos, em absoluto, tecer comentários acerca da crença
particular de salvação, uma vez que o lema do Espiritismo (*) já nos esclarece
quanto a isso. O que vale considerar, nessa parte do discurso do velho pescador
Simão, é o respeito à condição do outro quando resolve abraçar a fé que nós professamos.
Nos tempos apostólicos, Jesus sempre fez questão de chamar a todos – quaisquer uns
– à participação no Reino de Deus, bastando, para tal, purificarmos o coração: “Vinde
a mim todos vós que sofreis e andais sobrecarregados e eu vos aliviarei” (Mateus
11:28-30). Ou seja, o Mestre não fazia acepção de pessoas e a isso orientava
seus discípulos, convidando-os a abraçar a grande família universal, o que fez
ao afirmar que “minha mãe, minhas irmãs e meus irmãos são todos aqueles que
fazem a vontade de meu Pai que está nos céus” (Lucas 8:19).
No entanto, os discípulos de Jesus eram judeus e mesmo alguns
dos apóstolos mantinham vínculos com o Judaísmo, a exemplo de Tiago, com quem
Paulo disputou sobre a questão da circuncisão dos gentios, o que o ex-doutor da
lei não recomendava, embora mais tarde ele aconselhasse que o jovem Timóteo
fosse circuncidado, para evitar entreveros com seus antigos correligionários.
Jesus, porém, esforçou-se para fazer com que seus contemporâneos entendessem a necessidade
de se atualizar os velhos conceitos; quando ministrava os novos ensinamentos,
ele geralmente utilizava esta expressão: “Ouvistes o que foi dito aos antigos,
eu, porém, vos digo...” e dava a lição revolucionária do pensamento.
No que toca à Doutrina Espírita, ao propor que toda a
prática caritativa e de esclarecimento se faça gratuita e incondicionalmente,
Allan Kardec procurava reviver a pureza do ensinamento do Cristo, tanto que,
posteriormente, Léon Denis, o grande continuador do legado kardequiano,
declararia: “O Espiritismo não é a religião do futuro, mas o futuro das
religiões”. Ou seja: nenhuma religião, nenhum credo, nenhuma corrente
filosófica precisa desaparecer para que a Doutrina progrida: seu objetivo é
tornar as pessoas melhores. Assim, uma vez adotados os princípios renovadores
do Espiritismo, teremos, um dia, melhores católicos, melhores judeus, melhores
umbandistas, melhores protestantes...
E assim por diante, porquanto o que conta é nos
apresentarmos a Deus com a mente renovada pelo conhecimento da verdade, liberta
dos grilhões limitadores dos dogmas religiosos, e o coração purificado de todo
empeço quanto ao exercício da verdadeira caridade, vibrando continuamente na
dimensão do amor que acolhe, ampara e promove os necessitados do corpo e da
alma ao encontro de si mesmos, como filhos do Pai amantíssimo.
(*) “Fora da caridade não há salvação”, conforme o Cap. XV
de O Evangelho Segundo o Espiritismo.
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Abra sua alma!