Francisco Muniz
A quarta parte do Evangelho de Mateus versa sobre “O mistério do Reino dos Céus” e nela o capítulo 11, do qual retiramos o versículo 12 para os comentários deste dia 12 de novembro, trata da ação de João, o Batista, sobre quem Isaías havia profetizado como sendo o arauto que viria endireitar as veredas por onde o Messias trilharia: “Eis que envio o meu mensageiro à tua frente; ele preparará o teu caminho diante de ti”. Aqui está, portanto, o texto sobre o qual nos debruçaremos hoje, conforme a narrativa da Bíblia de Jerusalém:
“Desde os dias de João Batista até agora, o Reino dos
Céus sofre violência, e violentos se apoderam dele.”
Em nota de rodapé, a Bíblia de Jerusalém, referindo-se à imagem
forte utilizada por Jesus, diz que “a expressão tem sido interpretada de vários
modos. Pode tratar-se: 1. santa violência daqueles que se apoderam do Reino à
custa das mais duras renúncias; 2. da violência perversa dos que querem estabelecer
o Reino pelas armas (os zelotas); 3. da tirania dos poderes demoníacos, os dos
seus partidários terrestres, que pretendem conservar o domínio deste mundo e
criar obstáculos ao progresso do Reino de Deus. Finalmente, há quem traduza: “O
Reino dos Céus abre caminho com violência”, isto é, se estabelece com poder,
apesar e todos os obstáculos”.
Não tivesse o segundo concílio de Constantinopla, convocado
pelo imperador Justiniano e sua esposa – horrorizada com a ideia de renascer
como uma plebeia – retirado a reencarnação dos dogmas da Igreja, mesmo sendo
um ensino basilar de Jesus para a compreensão do Reino dos Céus, e
entenderíamos melhor e mais facilmente o que o Mestre quis dizer ao citar a
violência. Conhecedor das ações humanas ao longo da História, ele falava apenas
do comportamento do profeta Elias, uma das reencarnações de seu primo João
Batista, que, seis séculos antes, havia feito matar, por decapitação, dezenas
de sacerdotes do deus pagão Baal em nome de sua crença no Deus único.
Tal episódio enfureceu os reis de então, Acabe e Jezabel,
especialmente esta última, que renascera ao tempo de Jesus como Herodíades e se
tornou concubina do rei Herodes (Acabe reencarnado), apesar de casada com o
irmão deste. Pela lei de retorno, inconscientemente ela se recordava de Elias e
tomou-se de um ódio mortal pelo Batista, ao ponto de exigir a cabeça do profeta
numa bandeja de prata. Elias era, pois, um Espírito belicoso que, pelo
impositivo da Lei de Causa e Efeito, reencarnara com a necessidade “cármica” de
resgatar os erros do passado, agora na personalidade de João Batista.
A reencarnação, quisessem ou não o imperador Justiniano, sua
esposa ou os católicos de todos os tempos, é a chave para uma infinidade de
questões, condições e situações que atormentam a mente dos homens pelos séculos
afora. Por causa da violenta incúria dos religiosos que se fizeram herdeiros do
Cristianismo, coube à Doutrina Espírita, em sua feição do Consolador prometido por
Jesus, restaurar o sentido original da doutrina do Cristo conforme dito ao
doutor da lei Nicodemos: “Ninguém pode ver o Reino de Deus se não nascer de
novo” (João 3:1-21). O ensino do Mestre, portanto, foi violentamente deturpado,
o que deu azo à Terceira Revelação de Deus aos homens, que não quiseram ouvir a
primeira palavra do alfabeto divino: amor.
“O Espiritismo, a seu turno”, diz o Espírito Lázaro, “vem
pronunciar uma segunda palavra do alfabeto divino; estai atentos, porque esta
palavra ergue a pedra dos túmulos vazios, e a reencarnação (em itálico, no
original), triunfando sobre a morte, revela ao homem maravilhado seu patrimônio
intelectual; não é mais aos suplícios que ela o conduz, mas à conquista do seu
ser, elevado e transfigurado. O sangue resgatou o Espírito, e o Espírito deve
hoje resgatar o homem da matéria.” (*)
(*) O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XI,
Instruções dos Espíritos, item 8 (A Lei de Amor).
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