Francisco Muniz
Hoje, dia 10 de novembro, nosso estudo de passagens do Novo Testamento nos leva ao Evangelho de Lucas, onde colhemos o texto do versículo 11 do capítulo 10, colocado, na Bíblia de Jerusalém, sob a epígrafe “Missão dos setenta e dois discípulos”. Ei-lo, para nossos comentários sob a luz meridiana do Espiritismo:
“Até a poeira da vossa cidade que se grudou aos nossos
pés, nós a sacudimos para deixá-la para vós. Sabei, no entanto, que o Reino de
Deus está próximo.”
Primeiro foi com os Doze. O Cristo incumbira seus apóstolos
(ou “enviados”) de pregar a Boa Nova nas localidades palestinas, porquanto a missão
era circunscrita – “Ide, antes, às ovelhas perdidas da casa de Israel” (Mateus
10:1-7). Com os 72 discípulos, porém, a ordem já era mais abrangente e eles
deviam ir, em duplas, “a toda cidade e lugar aonde ele próprio devia ir”. Esse
número aumentaria muito mais após a ressurreição de Jesus, e logo na Galileia
haveria 500 devotados discípulos dispostos a cumprir as recomendações do Senhor
por todo o mundo conhecido. E se àquela época esse entendimento fosse localizado
na Palestina e suas cercanias, hoje a pregação alcança o planeta inteiro.
No entanto, o Nazareno deixa muito claro que os emissários
só deviam buscar os simpatizantes de sua causa, os outros deveriam ser deixados
em paz – até a poeira dessas cidades tinha de ser sacudida dos pés dos arautos!
Tal recomendação corresponde à Parábola do Festim das Bodas, onde vê-se que
todos – ou muitos – são chamados, mas poucos se dispõem a atender ao convite.
Recordamos, então, que Saulo de Tarso teve, após sua conversão, alguns
entreveros com os judeus de Damasco ao falar do Cristo, decidindo pregar entre os
gentios, embora também não fosse aceito em Atenas. Ou seja, o trabalho de
convencimento acerca das verdades do Reino dos Céus não é mesmo muito fácil – se
não for mesmo impossível – e por isso os espíritas, herdeiros do Cristianismo
primitivo, são instruídos a não fazer proselitismo.
Na ocasião em que Jesus dá essa determinação aos discípulos,
ele observou que “a colheita é grande, mas os operários são poucos” (Lucas 10:2),
e recomenda que peçamos a Deus, o Senhor da colheita, que envie mais operários.
Isso pode significar que, indo fazer tais pregações, os antigos emissários conquistariam
adesões para o movimento do Caminho (assim os servidores de Jesus eram então
conhecidos), uma vez que esses corações estariam afeiçoados aos propósitos e
ideais de renovação, pelo cultivo da esperança e da fé no Deus de amor e
misericórdia.
Ainda hoje há quem cumpra à risca a ordem do Messias e assim vemos – com a pandemia, essa prática vimos interrompida – nossos irmãos Testemunhas de Jeová saírem aos pares, de casa em casa, proclamando seu entendimento acerca das Escrituras. Quanto a nós, espíritas, fazemos a tarefa do esclarecimento em nossos arraiais mesmo, junto àqueles que querem e vêm buscar o consolo da palavra que liberta no seio das casas dedicadas a esse mister, instituídas com a finalidade de iluminar as consciências.
Em Obras
Póstumas, Allan Kardec diz, com proficiência, que os adeptos do Espiritismo não
precisamos fazer defesa nem a propaganda da Doutrina, porque os Espíritos sabem
defendê-la muito bem dos ataques que se lhe façam; e porque os detratores são
os maiores divulgadores, pois falar mal de algo é atrair para ele todas as
atenções. Assim, informa o Codificador, só nos resta cuidarmos de nossa transformação
anterior – e, convenhamos, nossa mudança, para melhor, de caráter e de atitude perante
a vida já será a propaganda mais eficaz que poderemos fazer a qualquer tempo.
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