Francisco Muniz
É novembro, um novo mês se inicia para nosso estudo em torno de temas do Novo Testamento e nesta data, dia 1, calhou de abrirmos a Bíblia de Jerusalém no capítulo 11 do Evangelho de João, que trata da “ressurreição de Lázaro”. Vamos nos debruçar, então, sobre o texto do primeiro versículo, que o evangelista narrou assim:
“Havia um doente, Lázaro, de Betânia, povoado de Maria e
de sua irmã Marta.”
De acordo com o médico grego Hipócrates, considerado o “pai
da medicina”, não há doenças, mas doentes. E Lázaro, ao tempo de Jesus, era um
doente, segundo atesta João, fazendo-nos considerar que a condição enfermiça do
irmão de Marta e Maria era muito mais moral que física e que a doença em seu
corpo era somente o efeito material de uma causa oculta, cuja matriz radicava
na alma – hoje, pela orientação espírita, sabemos que o perispírito é a sede
dessas anomalias.
Ao tempo de Jesus, portanto, a Palestina era o microcosmo representativo
do mundo inteiro e também o macrocosmo das questões individuais, tanto quanto
hoje. Compreendendo assim, ampliamos o alcance da frase hipocrática e enxergamos
todo o corpo social em situação enferma: a sociedade está doente, exigindo um
tratamento rigoroso a fim de se curar de suas muitas mazelas.
Em sua portentosa obra Sabedoria do Evangelho (*), Carlos
Torres Pastorino faz uma análise profunda do episódio relacionado ao
adoecimento, “morte” e ressurreição de Lázaro, no qual o Mestre teve papel
preponderante. Jesus, a princípio, não se preocupa com a notícia de que seu
amigo adoecera e não se desloca da Galileia para Betânia, distante dois dias de
viagem a pé, senão após esse tempo, porque sabia que “essa doença não é mortal,
mas para a glória de Deus, para que, por ela, seja glorificado o Filho de Deus”
(bem se vê que em João não há o prurido judaico de se citar o nome de Deus,
como observado em Mateus). Só quando decide ir a Betânia é que o Rabi declara a
morte de Lázaro.
De acordo com Pastorino, esse episódio deve ser visto sob o
ponto de vista do esoterismo, tratando-se dos passos de uma iniciação
espiritual a que Lázaro se submetera para avançar na Ordem de Melquisedeque, da
qual o Cristo é sumo sacerdote. Lázaro, contudo, falhou no último passo e assim
foi necessária a intervenção de Jesus, promovendo a consequente ressurreição de
seu amigo. Ou seja, Lázaro não soube ou não conseguira transcender sua condição
meramente humana, ou material, e por isso morrera, como acontece com muitos que
deixam a experiência física ainda ignorantes do que aconteceu e continuam
presos à indumentária carnal, na ilusão de estarem ainda “vivos”.
Com a participação de Jesus em nossa jornada de aprendizado
na Terra, porém, estejamos certos de que poderemos também ressuscitar, isto é,
uma vez dada a morte do corpo, libertarmo-nos dos liames materiais e ressurgirmos
para o ambiente espiritual que nos é próprio, readaptando-nos a ele com a brevidade
possível. Dessa forma podemos entender com mais propriedade o que o Amigo
divino quis dizer ao afirmar que é, de fato, o caminho da verdade e da vida.
Doentes estamos todos e devemos, para alívio de nossas dores, recorrer ao
Médico dos Médicos, àquele que não veio para os sãos, mas para os enfermos.
Confiemos a ele nossa alma enferma e, submetendo-nos ao jugo suave de seu amor,
logo nos perceberemos curados.
(*) Ed. Sabedoria, RJ.
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Abra sua alma!