Francisco Muniz
“O bom pastor” dá título ao capítulo 10 do Evangelho de João, cujo versículo 6, correspondendo a este dia 6 de outubro, tentaremos comentar hoje, sob as luzes da Doutrina Espírita. Está claro que o evangelista se refere a Jesus, que aí se apresenta como aquele que conhece as ovelhas de seu rebanho pelo nome de cada uma delas, porque entra no redil exatamente pela porta, ao passo que ladrões e assaltantes invadem por outro lugar. Dito isto, vamos ao texto do versículo, expresso na Bíblia de Jerusalém:
“Jesus lhes apresentou essa parábola. Eles, porém, não
entenderam o sentido do que lhes dizia.”
Qual parábola? Aquela em que Jesus reafirma, enfaticamente, ser
o divino Pastor, a porta das ovelhas, porquanto àqueles que vieram antes dele eram
ladrões e assaltantes – a Bíblia de Jerusalém, numa nota de rodapé, dá a
entender que se trata dos fariseus, podendo ser também os falsos religiosos da
atualidade, dizemos nós –, os quais as ovelhas não ouviram. É ele, o Cristo,
conforme salienta João, a porta pela qual será salvo e encontrarão pastagem as
ovelhas que entrarem e saírem. Porque, ensina o Messias, “o ladrão só vem para
roubar, matar e destruir”. Não é assim com o Divino Amigo, porém: “Eu vim para
que tenham a vida e a tenham em abundância”.
Pois bem, o evangelista diz que “eles” não entenderam o
sentido das palavras de Jesus. E se naquela época eles eram os fariseus
hipócritas do Templo, hoje em dia o conceito necessariamente se amplia e vemos quantos
pretensos religiosos açambarcam o “tesouro das viúvas”, enriquecendo
indebitamente com as generosas ofertas dos fiéis que dizem conduzir em suas
instituições. Que têm essas raposas com o Cristo, se só se aproveitam do nome santo
e da sagrada mensagem para manter escravizadas as mentes incautas que lhes caem
no poder? Esquecem-se do precioso aviso: somente lobos caem em armadilhas de
lobo, de forma que, mais tarde, muito terão a lamentar.
Cuidemos, no entanto, do bom Pastor, e recordemos que, além
de filho de um carpinteiro, tendo aprendido essa arte, o menino Jesus também
teve seus dias de condutor de ovelhas reais – e não metafóricas – a benefício
de sua família. E foi nessa condição que ele um dia (*) sofreu o confronto com
um jovem enciumado que o acertou com uma pedrada; da testa ferida do futuro
Messias caiu ao chão uma gota de sangue, e no local brotou instantaneamente uma
belíssima flor rubra. O outro garoto, tomado de pavor, fugiu esbaforido. Mas
ele seria, mais tarde, uma das muitas ovelhas desgarradas que o Nazareno atrairia
para o divino aprisco.
Também nós, que hoje nos alegramos e verdadeiramente
experimentamos a felicidade de pertencer ao grupo de seus seguidores, já
tivemos, no passado, um comportamento desabonador perante o Cristo, daí sermos
informados de que o espírita de hoje é o cristão falido de ontem. Fomos, não
sabemos quantas vezes, as ovelhas transviadas cujos interesses não coadunavam
com as propostas libertadoras do Divino Emissário, todas elas expostas para
nossa segurança e tranquilidade, tanto no momento mesmo em que foram colocadas
quanto na dimensão futura. E só agora o compreendemos, deixando-nos conduzir
por esse amoroso Pastor, que tudo o que quer é guiar nossos passos no caminho
da iluminação, das bem-aventuranças todas!
(*) Esse episódio é narrado poeticamente no terceiro volume
(Jesus) de A História Triste, que o Espírito Patience Worth transmitiu
à médium norte-americana Lenore Pearl Curran e o escritor Hermínio Miranda
traduziu para o português.
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