Esta data no Evangelho (5 de outubro)

Francisco Muniz



Neste dia 5 de outubro, nosso programa nos leva novamente ao tema da salvação da alma, agora interpretando o versículo 10 do capítulo 5 da Epístola de Paulo aos Romanos, cuja epígrafe é “A justificação, penhor de salvação”. Tal assunto mereceu do Apóstolo dos Gentios muito grande atenção, e mais ainda dos pais da Igreja, preocupados com a sorte dos fiéis após a morte do corpo material. Movia-os, por certo, muito mais um temor supersticioso das penas infernais do que a garantia de um céu beatífico prometido àqueles comprometidos com o ideal cristão. Mas vamos ao texto que subsidiará nossos comentários, retirado, sempre, da Bíblia de Jerusalém:

“Pois se quando éramos inimigos fomos reconciliados com Deus pela morte do seu Filho, muito mais agora, uma vez reconciliados, seremos salvos por sua vida.”

A ideia de salvação, em termos religiosos, parece-nos, no fundo, dizer respeito à escapada das agruras que o mundo material representa, com todo seu acervo de misérias, em contraposição ao banquete espiritual do Reino dos Céus aventado por Jesus naqueles recuados dias de dois mil anos atrás. Certamente tomaram-se ao pé da letra estas palavras do Messias: “Quem quiser salvar sua vida perdê-la-á...” (Mateus 16:24-28 e Marcos 8:35), julgando, talvez, a morte física como um pavoroso castigo, o que não encontra respaldo nas lições de Jesus.

Mas Paulo, nesse versículo destacado do texto integral de sua carta, fala-nos de reconciliação com Deus a partir dos ideais do Cristo Jesus, os quais precisamos abraçar a fim de cumprirmos os sagrados desígnios e assim nos quitarmos perante as sábias Leis. Isso quer dizer que, como na Parábola do Filho Pródigo, durante muito tempo estivemos divorciados da Divindade, ou, utilizando uma imagem ao gosto do Filho do Homem, estávamos como ovelhas desgarradas e agora precisamos retornar ao aprisco, à Casa Paterna onde seremos muito bem recebidos apesar de nossos muitos erros. É nisso que consiste a salvação, de fato: o que estava perdido foi encontrado, o que estava morto revive (Lucas 15:11-32).

De modo mais abrangente, a visão paulina sobre a salvação argumenta a ideia de justificação, o que para o apóstolo seria propiciado unicamente pela fé no Cristo, embora este tivesse explicado que a cada um será dado de acordo com as próprias obras, apontando para a lei do mérito. Seguindo esse princípio, o apóstolo Tiago afirma, em sua epístola, que “a fé sem obras é morta”. Muito provavelmente, Paulo não teve acesso à carta de Tiago e manteve-se fiel a seu pensamento mesmo durante sua encarnação posterior, como Martinho Lutero, quando pelejou contra a Igreja Romana (*) na questão da pecaminosa venda das indulgências.

Mas voltemos ao escopo de nosso trabalho e procuremos compreender a salvação do ponto de vista da realidade espiritual. De acordo com os relatos dos Espíritos – e a vasta literatura espírita traz-nos exemplos de sobejo –, a “sorte” de quem parte da esfera material em demanda do mundo da Verdade é diametralmente oposta à situação vivida na Terra, o mundo das formas. Assim, é fácil concluir que as perdas na realidade material significam ganhos na vida futura, uma vez que nossa perdição está em abraçarmos como verdadeiro o que é essencialmente ilusório, mesmo que nossos sentidos físicos nos digam o contrário.

É o apego aos bens materiais, em suma, a causa dessa perdição, ao passo que a salvação está em libertarmo-nos desde já do domínio da matéria perecível sobre nossa alma imortal, aprendendo os exercícios propiciadores de nossa paulatina desmaterialização. Nesse sentido, vale meditarmos no significado do lema que Allan Kardec escolheu para o Espiritismo – “Fora da caridade não há salvação” – e, o quanto possível, esforçarmo-nos para cumpri-lo em nós mesmos.

(*) Ver o segundo volume de As Marcas do Cristo, de Hermínio Miranda, ed. FEB.


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