Francisco Muniz
Hoje, dia 31 de outubro, a “Parábola do bom samaritano” está na pauta de nosso estudo, uma vez que o versículo 31 do capítulo 10 do Evangelho de Lucas, que destaca esse ensinamento de Jesus, se oferece para nossos comentários à luz da Doutrina Espírita. O texto do versículo, retirado da Bíblia de Jerusalém, é este:
“Casualmente, descia por esse caminho um sacerdote; viu-o
e prosseguiu.”
A história já conhecemos de cor e salteado, mas, como diz a
canção de Beto Guedes, só nos resta aprender. Para nós, espíritas, que temos
como lema o dístico “fora da caridade não há salvação”, fica fácil assimilar
todo o sentido da lição que o Cristo imprime nessa parábola, condenando a
atitude do levita, do escriba e do sacerdote (os religiosos de todas as
épocas), exaltando, por outro lado, o comportamento do samaritano que agiu
misericordiosamente junto ao homem ferido.
Mas procuremos destrinchar o que nos diz o versículo citado,
a fim de aprendermos um pouco mais acerca de nossos deveres espirituais. O
primeiro ponto a ser observado é o da casualidade, remetendo às oportunidades
que Deus, compadecido de nossa condição sofrível, concede-nos para mais
depressa quitarmos nossos muitos débitos contraídos perante suas leis. Chamamos
de casualidade, acaso ou coincidência o que é certamente ação providencial. Por
nosso livre arbítrio, podemos escolher transitar por quaisquer caminhos que o
mundo nos oferece, mas tivemos de passar justamente pela via onde temos a inigualável
oportunidade de sermos úteis a Deus, ao Cristo, aos bons Espíritos, sendo úteis àquele
necessitado do caminho. Mas passamos ao largo, desprezando a chance de
crescermos um pouco mais em direção do objetivo.
O outro ponto é a expressão “descer pelo caminho”, que pode
significar a reencarnação, a descida do Espírito à face escura do planeta, ao
mundo material, para cumprimos as provas necessárias à nossa elevação no
sentido contrário, o caminho da volta, que precisa ser ascensional, para o alto
e para frente sempre. Em vez disso, por não atendermos aos impositivos
conscienciais, despertando para o cumprimento da vontade de Deus expressa em
suas leis sábias, perfeitas e imutáveis, deixamos de subir – e não progredir é
o mesmo que retroceder, segundo o Espírito Emmanuel. Concordamos, mesmo sabendo
que o Espírito não retrograda, ficando estacionário, o que, em termos de
evolução, é mesmo um retrocesso.
O sacerdote constitui o terceiro ponto e já vimos que a
palavra corresponde a todo aquele que de alguma forma tem noção, a mínima que
seja, da existência, da ação, dos desígnios, do poder da Divindade sobre nós e
exerce deveres decorrentes desse saber. Assim, o mínimo a se fazer é dar
correspondência à condição de intermediário entre a Providência e as
necessidades humanas, sejam elas materiais ou, principalmente, espirituais. Não
fazer isso é rasgar a Constituição do Espírito, expressa na lei que manda
amarmos a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos, como Jesus
tão bem resumiu o primeiro mandamento da legislação mosaica.
Por último, ver o acontecido e passar adiante, sem nada fazer para superar ou mesmo atenuar a situação adversa, a dor do irmão que sofre, é negar a si mesmo da pior forma possível, fazendo pouco da confiança que o Pai Altíssimo depositou sobre nós, tornando-nos capazes de executar seus atos de misericórdia em favor dos infortunados. O Cristo proclamou a necessidade de renunciarmos a nós mesmos para segui-lo, mas aí se trata de nos apagarmos para o mundo a fim de resplandecermos no âmbito da realidade espiritual, verdadeiramente assumindo a túnica do servidor comprometido e atento às suas responsabilidades. Por isso é que a cada um será dado de acordo com suas obras, como asseverou o Mestre.
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