Francisco Muniz
A “preparação do ministério de Jesus” intitula a segunda
parte do capítulo 3 do Evangelho de Lucas, que se reporta à ação de João Batista
como aquele que, conforme anunciado pelo profeta Isaías, viria endireitar as
veredas por onde o Senhor trilharia. Eis o mote para os comentários de hoje, 3
de outubro – quando homenageamos Allan Kardec por seu aniversário –, no âmbito de nosso programa de
estudos referentes ao Novo Testamento. Como é de praxe, utilizamos a Bíblia
de Jerusalém, de onde colhemos o texto do versículo 10:
“E as multidões o interrogavam: ‘Que devemos fazer?’”
É uma pergunta similar àquela feita por Saulo de Tarso ao
Cristo, no caminho de Damasco. Agora não é apenas um homem, mas as multidões. E
não é Jesus, que ainda não iniciara suas pregações, mas João, o batista, o precursor,
na execução de sua tarefa como arauto do Messias, reinaugurando a época dos
profetas entre os judeus. Desacostumados e talvez saudosos dos tempos proféticos,
recordados unicamente durante a leitura das Escrituras no Templo ou nas
sinagogas, os judeus acorriam para João e se penitenciavam ante a iminente
vinda do Messias: “Que devemos fazer?”
E o Batista lhes respondia, preparando-os para a chegada do
Cristo, aquele de quem dizia não ser digno de desatar os nós das sandálias: “Quem
tiver duas túnicas, reparta-as com aquele que não tem, e quem tiver o que
comer, faça o mesmo”. Ou, aos publicanos: “Não deveis exigir nada além do que
vos foi prescrito”. E aos soldados: “A ninguém molesteis com extorsões; não
denuncieis falsamente e contentai-vos com o vosso soldo”. Ou seja, que todos
procurassem viver de forma o mais justa possível, de conformidade com a Lei de
Deus explícita no Decálogo, fazendo aos outros o que gostariam que lhes
fizessem – exatamente o que Jesus enfatizaria mais tarde.
Mas tragamos essa pergunta para os dias de hoje e vejamos se
as multidões estão devidamente informadas do que devem fazer, mais de dois mil
anos depois da passagem do Cristo pelo mundo. E quanto a nós mesmos, a nós que
nos dizemos cristãos, agora esclarecidos pela Doutrina Espírita – já temos bem
delineados os deveres que nos cabem como discípulos de Jesus? E, mais ainda, já
cumprimos fielmente esses deveres?
Segundo o benfeitor Emmanuel nos transmitiu pela pena mediúnica
de Chico Xavier, “o espírita só tem um direito, que é o de cumprir seus deveres”.
E o dever, de acordo com a mensagem do Espírito Lázaro em O Evangelho
Segundo o Espiritismo (*), “é o mais belo laurel da razão; depende dela
como o filho depende de sua mãe. O homem deve amar o dever, não porque o
preserve dos males da vida, aos quais a Humanidade não pode se subtrair, mas
porque dá à alma o vigor necessário ao seu desenvolvimento”.
Assim, convimos que aquele que deixa de cumprir seus deveres
nega os mínimos princípios racionais, desobedecendo à própria consciência, onde
se encontra inscrita a lei de Deus, o conhecimento do bem e do mal, sendo ela
que nos impõe a noção do dever. Voltando ao Espírito Lázaro, nessa mesma
mensagem ele afirma ser o dever “a obrigação moral, diante de si mesmo
primeiro, e dos outros em seguida”, ajuntando que ele é lei da vida: “É uma
bravura da alma que afronta as angústias da luta”.
Somente o amadurecimento psicológico pode nos dar a devida
compreensão quanto aos muitos deveres que temos a observar no mundo,
principalmente nas esferas relacionais, porquanto, ainda segundo Lázaro, “o
homem que cumpre o seu dever ama a Deus mais que às criaturas e às criaturas
mais do que a si mesmo”, de modo que esse homem cumpridor de seus deveres “é,
ao mesmo tempo, juiz e escravo em sua própria causa”.
(*) Capítulo XVII, item 7 (Instruções dos Espíritos).
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