Esta data no Evangelho (29 de outubro)

Francisco Muniz


O poder da Divindade através da presciência e da Providência divinas dão o tom dos comentários que faremos hoje, 29 de outubro, ao abordarmos o versículo 29 do capítulo 10 do Evangelho de Mateus, que na Bíblia de Jerusalém é registrado sob a epígrafe “Falar abertamente e sem medo”. Eis o texto:

“Não se vendem dois pardais por um asse? E, no entanto, nenhum deles cai em terra sem o consentimento de vosso Pai!”

Essas palavras de Jesus prosseguem as recomendações aos discípulos quando o Mestre delineou a missão dos Doze, em seu discurso apostólico. Esse versículo, portanto, está colocado sob a epígrafe “Os missionários serão perseguidos” pelos homens que não querem a liberdade nem para si nem para as consciências que eles escravizam, repudiando o esclarecimento que o Cristo promove para a disseminação da verdade que liberta. No entanto, os missionários encontram-se sob a proteção divina e o Pai, que está atento até mesmo ao voo de um simples pardal, cuida muito bem das necessidades de cada um de seus filhos em tarefa benemérita: “Não tenhais medo, pois valeis mais do que muitos pardais”.

Eis mais uma dessas passagens do Novo Testamento que apela para o soerguimento e fortalecimento de nossa fé nos poderes do Alto, reconhecendo a onisciência, a onipresença e a onipotência de Deus, bem como a verdade, a justiça e a bondade de seus insondáveis desígnios. Em razão disso, Jesus, nosso Mestre, guia e modelo de toda a Humanidade, pede-nos que não tenhamos medo ao sairmos de nós mesmos para proclamar as verdades do Reino, porque o medo é uma energia oposta ao bem, ao amor, à própria vontade de Deus, que quer que seus filhos misérrimos amemo-nos uns aos outros a fim de bem depressa nos libertemos da ignorância de nós mesmos, sendo esta a pior forma de escravidão.

Valemos mais do que pardais e se dos animais Deus sabe cuidar muito bem, através de suas leis sábias e perfeitas – imutáveis, portanto –, em nós essas lei precisam ser conhecidas pelo esforço do despertamento da consciência, o que, em verdade, é o desabrochar da potência crística em cada um de nós que já não encontramos satisfação na realidade meramente material. É que chega um momento em nossa vida que as experiências de há muito repetidas não resultam em aprendizado nem em crescimento espiritual; ou, no modo de dizer de Paulo de Tarso, o alimento de crianças já não nos serve e procuramos então o alimento próprio dos adultos. Essa analogia cabe muito bem na dimensão das atividades religiosas a que nos entregamos no mundo.

Religião, de acordo com o conceito latino, significa voltarmos a nos ligar a Deus, instância originária da Criação de onde procedemos e para a qual retornaremos após cumprirmos a longa série de tarefas de que nos incumbimos com o objetivo de desenvolvermos as asas do amor e da sabedoria. Só assim poderemos conquistar nossa união em definitivo com a dimensão divina, uma vez compreendidas estas palavras do Cristo: “Eu e o pai somos um” e “Eu sou o Caminho da Verdade e da Vida” (esta a forma como prefere Carlos Torres Pastorino), de modo que só marchando com Jesus, assimilando e vivendo suas lições é que lograremos alcançar a felicidade que não é deste mundo.

Assim, as recomendações feitas no versículo que acabamos de estudar se aplicam com muito mais ênfase aos aprendizes do Evangelho sob as orientações do Espiritismo que, fazendo-nos muito mais responsáveis que antes pela fé raciocinada, capacita-nos ao trabalho santificante demonstrando que não estamos a sós. Os Espíritos do Senhor sustentam-nos em nossas iniciativas para o bem maior. Nosso dever, portanto, é seguirmos para frente e para o alto, sem temermos a intempérie nem as ameaças do caminho.

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