Esta data no Evangelho (28 de outubro)

Francisco Muniz


No capítulo 28 de Atos dos Apóstolos o evangelista Lucas narra ainda as peripécias de Paulo de Tarso após sua partida para Roma a bordo de um navio, história essa contada a partir do capítulo anterior. Assim, sob a epígrafe “Permanência em Malta” (1), o versículo 10 desse capítulo 28 traz-nos o assunto que comentaremos neste dia 28 de outubro, com base no aprendizado da Doutrina Espírita. A Bíblia de Jerusalém assim registra a passagem:

“Cumularam-nos, então, com muitos sinais de estima; e, quando estávamos para partir, levaram a bordo tudo o que nos era necessário.”

Assim procederam para com Paulo e seus companheiros os nativos daquela ilha, no momento da despedida, em virtude dos benefícios e dos exemplos que o Apóstolo dos Gentios prodigalizou junto a eles, especialmente ao “Primeiro da ilha, chamado Públio”, que hospedara o grupo por três dias. Segundo o relato de Lucas, “o pai de Públio estava acamado, ardendo em febre e com disenteria. Paulo foi vê-lo, orou e impôs-lhe as mãos, e o curou”. As curas se multiplicaram então e foi por gratidão que a comitiva do apóstolo foi cumulada de dádivas pelos ilhéus.

Podemos, para o que nos interessa, transportar esse acontecimento e tudo o que ele representa para os dias de hoje, para nossas experiências encarnatórias, a fim de balizarmos nosso comportamento nas cerimônias de despedida da vida física, tanto nossas quanto de seres queridos. Assim como observamos em Paulo, de acordo com a narrativa de Lucas, nosso dever, enquanto na esfera material, é fazermos todo o bem ao nosso alcance ao máximo de pessoas possível, não para que sejamos cumulados de gentilezas, mas para darmos sentido prático à nossa passagem pelo mundo, demonstrando nossa participação na obra regeneradora que o Cristo realiza na Terra.

A chamada última homenagem que se presta àqueles que partem do mundo material ao fim de seu périplo carnal mereceu de Allan Kardec preciosas considerações, a partir do questionamento feito aos Espíritos Superiores (2). Se para os encarnados essa reverência aos mortos ganha ares de respeito religioso, como o culto aos antepassados observado em algumas culturas, representando um ato de caridade entre os cristãos, para o Espírito que parte ela ganha uma importância insuspeitada, dada sua sensibilidade a tais manifestações: “(...) Se são felizes, essa lembrança lhes aumenta a felicidade; se são infelizes, serve-lhes de lenitivo” (3).

Assim, o que nos parece lógico, a partir das observações referentes à passagem evangélica, é levarmos nossos bons sentimentos, palavras, pensamentos e atitudes ao ser querido que ao finalizar suas provas entre nós só pode levar consigo os valores morais amealhados durante a existência física. Nosso preito de gratidão, portanto, aumentará em muito sua satisfação por ter contribuído de algum modo para a nossa felicidade, fosse abrandando nossas dores, fosse aumentando nossas alegrias.   

Talvez estejamos fazendo tal abordagem dessa passagem em razão da proximidade do dia 2 de novembro, quando na Terra se comemora o Dia dos Mortos, ou de finados, ocasião em que muitos de nós acorremos aos “campos santos” para honrar a memória dos que partiram através da materialização do sentimento. O fato é que eles não estão mais ali, salvo as exceções de praxe, mas o simples fato de nos lembrarmos deles é motivo bastante para atraí-los, não importando o dia nem o local para isso (4).

Notas 

(1) É a maior das cinco Ilhas Maltesas que constituem o arquipélago que forma a atual República de Malta, localizada no meio do mar Mediterrâneo.

(2, 3 e 4) Questões 320 e seguintes de O Livro dos Espíritos.


Comentários