Esta data no Evangelho (26 de outubro)

Francisco Muniz



A escolha aleatória (sei, a expressão é contraditória!) dos versículos na Bíblia de Jerusalém por vezes nos causa alguma perplexidade, geralmente quando eles chegam “quebrados”, como o de hoje, 26 de outubro. Nesta data, nosso estudo faz nos debrucemos sobre o versículo 26 do capítulo 10 da primeira Epístola de Paulo aos Coríntios, sob a epígrafe “As carnes sacrificadas aos ídolos. Soluções práticas”:

“(...) pois a terra e tudo que ela contém pertencem ao Senhor.”

No original, o texto está destacado em itálico, significando que o autor quis dar ênfase ao enunciado. Com efeito, tudo que esteja à disposição do homem na superfície quanto nas profundezas do planeta é de propriedade do Criador, porquanto o homem nada produziu, tendo apenas o direito do usufruto a fim de garantir a sobrevivência do corpo material. Como ser onisciente, Deus sabe de nossas necessidades e nos provê de todos os recursos para nosso bem-estar e equilíbrio psicofísico, para sermos verdadeiramente úteis em sua Obra, trabalhando para o progresso tanto na esfera da coletividade quanto no plano individual.

É nesse capítulo de sua Carta aos Coríntios que o Apóstolo dos Gentios declina sua máxima mais conhecida, ao afirmar que “tudo é permitido, mas nem tudo convém”, referindo-se principalmente ao que devemos aproveitar do mundo, porquanto “nem tudo edifica”, embora seja permitido. Assim, o que se encontra nas reticências iniciais do versículo em exame é bastante esclarecedor: “Tudo o que se vende no mercado, comei-o sem levantar dúvidas por motivo de consciência”. Essa recomendação se ajusta perfeitamente aos nossos dias, em vista das condições em que tais gêneros à venda são produzidos e da situação em que vivem muitos de nossos irmãos à mercê da penúria e da fome.

No entanto, “por motivo de consciência”, devemos nos alimentar, fortalecendo corpo e alma, a fim de podermos levar nossa parcela de colaboração na supressão da miséria alheia sem questionarmos o porquê de tal estado de coisas. Se tudo pertence a Deus, nosso Pai amantíssimo saberá sempre como cuidar de seus filhos misérrimos, sobre os quais derrama continuamente de sua inesgotável misericórdia. Sabemos que o agronegócio e a indústria alimentícia, movidos pelos ditames capitalistas, preconizam o lucro fácil acima dos cuidados para com a saúde dos consumidores. Mas se levarmos tais pensamentos à boca, junto com o alimento do prato, certamente adoeceremos.

E a razão para isso é a energia carreada pelos pensamentos negativos, impregnados de emanações fluídicas de baixo teor vibratório, nascidas do padrão de emoções alimentado, como o medo, a indignação e a revolta. É então que nos lembramos desta lição do Cristo: “Não resistais ao mal que se vos queiram fazer” (1), bem como da admoestação feita aos fariseus observando que seus apóstolos não lavavam as mãos antes de tomar as refeições, obtemperando que quem fez o interior fez também o exterior, de modo que “o mal não é o que entra, mas o que sai da boca do homem” (2). Também por isso, o Mestre recomendou-nos temer mais o que pode levar prejuízo ao Espírito do que ao corpo.

É certo que devemos tomar os cuidados necessários ao bom funcionamento do corpo, mas isso não deve jamais tirar nossa tranquilidade, preocupando-nos mais do que o aproveitamento das possibilidades de nos ocuparmos fazendo o bem. O bom senso é o fiel da balança a conduzir-nos na Terra com o equilíbrio possível.  

Notas

(1) Mateus 5:39.

(2) Mateus 15:11-18.


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