Francisco Muniz
Hoje, dia 24 de outubro, vamos voltar ao livro Atos dos Apóstolos para apreciar o décimo versículo do capítulo 24, no qual o evangelista Lucas trata do “processo diante de Félix”, naturalmente envolvendo a figura carismática de Paulo de Tarso. Com efeito, o Apóstolo dos Gentios, custodiado pelos romanos, que o livraram da sanha ignara dos judeus, fora levado à presença de Antônio Félix, o procurador (cargo equivalente ao de governador) da Judeia que deveria julgá-lo, posto ser Paulo um cidadão romano de origem. Eis o texto do versículo, conforme a narrativa da Bíblia de Jerusalém:
“Então, tendo o governador feito sinal para que falasse,
Paulo respondeu: (...)”
O governador Félix, por suas atribuições como representante
do imperador de Roma, atuava também como juiz nas causas de interesse do Império
– e Paulo, naquele momento, devia se submeter a ele a fim de realizar sua
defesa. Sim, Paulo era acusado pelo sumo sacerdote Ananias (claro está que se
trata de um homônimo do benfeitor do antigo doutor da lei em Damasco) e
encarregou o advogado Tertulo de proferir a acusação. Referindo-se, pois, a
Paulo, o advogado declarou: “Verificamos que este homem é uma peste: ele
suscita conflitos entre todos os judeus do mundo inteiro, e é um dos da linha
de frente da seita dos nazareus. Tentou mesmo profanar o Templo, e por isso o
detivemos”.
Ora, mais que o governador romano, a História julgou Paulo e
ei-lo figurando, entre nós, como o maior divulgador da doutrina do Cristo que o
mundo já pôde conhecer. A vida dos cristãos sinceros e dedicados, portanto, não
dispensa os sinais e uma vez que haja sinalização é preciso correspondermos. Tais
sinais devem ser observados, inicialmente, nas lições e exemplos que Jesus nos
legou. No que toca à condição em que Paulo se encontrava, conforme o registro
que ora observamos, Jesus já havia declarado ser bem-aventurado aquele que
sofre perseguição da justiça por amor a seu nome. Também dissera a seus
discípulos que não se preocupassem com o que dizer, porque em tais momentos as “línguas
de fogo” lhes desceriam sobre a cabeça, ou seja, seriam auxiliados mediunicamente
pelos auxiliares invisíveis.
Assim, uma vez obtido o sinal para que falasse, Paulo
defendeu-se, levando-nos a considerar ser atitude deplorável agirmos de inopino
nas situações em que nos vejamos presas de um perigo extremo, qual a ameaça de
perda da liberdade. “Nada neste mundo vale meu desespero”, pondera o Espírito
Jerônimo de Albuquerque, mentor do C. E. Deus, Luz e Verdade, que também nos
ensina a refletir antes de esboçar qualquer reação: “Nunca fale sem pensar; de
preferência, pense sem falar”. Nas histórias, geralmente filmadas, do Velho
Oeste norte-americano, quando a lei e a ordem ainda não eram a tônica, os que portavam
armas costumavam atirar primeiro e perguntar depois, mas hoje sabemos que o
ataque não é a melhor defesa, a não ser no futebol.
Paulo, então, revela-se a Félix como seguidor do Caminho (a
denominação Cristianismo ainda não havia sido formulada por Lucas), “a que
chamam de seita”. Sim, também nós, quando questionados, devemos afirmar com
coragem e verdade que somos igualmente seguidores do Cristo, orientados pela
Doutrina codificada por Allan Kardec, o que não nos faz menos cristãos que nossos
irmãos católicos e protestantes, tampouco nos fazendo superiores a quem quer
que seja. Importa-nos, sobretudo, estar conscientes de nossa condição perante
Jesus, vendo nele não nosso salvador, mas o Mestre com quem aprendemos as
lições de salvação e, como seus discípulos devotados, aplicarmo-nos na prática do
perdão a quem nos persiga e queira de algum modo nos fazer mal.
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