Esta data no Evangelho (23 de outubro)

Francisco Muniz



Aproxima-se o fim do mês e as possibilidades de encontrarmos capítulos de numeração alta nos livros do Novo Testamento vão rareando, de modo que hoje, dia 23 de outubro, a Bíblia de Jerusalém nos apresenta o versículo 10 do capítulo 23 do Evangelho de Mateus, nestes termos, que comentaremos segundo as orientações da Doutrina Espírita:

“Nem permitais que vos chamem ‘Guias’, pois um só é vosso guia, Cristo.”

Esse versículo, colocado sob a epígrafe “Hipocrisia e vaidade dos escribas e dos fariseus”, continua as admoestações de Jesus ao povo e a seus discípulos quanto à necessidade de se precaverem dos falsos profetas, dos que ensinam inverdades e procuram enganar os incautos com palavras melífluas e intenções ocultas. Já vimos, em nosso estudo, o Mestre pedir que a ninguém na Terra chamemos “Pai”, porquanto só há um, o do Céu.

Da mesma forma, há somente um guia e modelo para toda a Humanidade, conforme pontua Allan Kardec em O Livro dos Espíritos (*), oferecendo-nos a resposta sucinta dos Espíritos Superiores à pergunta feita nesse sentido. Esse guia não só aponta o caminho a ser seguido como nos acompanha, a cada um de nós, até o objetivo a ser alcançado: o Cristo. Mas a recomendação de Jesus é feita principalmente contra as ameaças da vaidade, razão pela qual pede aos discípulos que não aceitem ser chamados de guias.

A esse respeito, vale observar que Jesus, ao fazer tais observações, tornou desnecessária a figura de intermediários entre os homens e ele mesmo, ou entre os homens e Deus. Desse modo, também é questionável a manutenção, na esfera do Cristianismo, de um sacerdócio oficializado, porquanto, como já vimos antes, interpretando Paulo de Tarso, que cada homem, uma vez esclarecido, é sacerdote no templo do próprio coração, porquanto seja o Cristo, na dimensão cósmica, o sumo sacerdote.

Assim, do ponto de vista religioso, místico ou espiritual, nenhum de nós, espíritos encarnados, deve se ver como mestre ou guia junto a quem quer que seja, uma vez que não é o discípulo maior que seu mestre e o único digno desse título é Jesus, o Cristo de Deus. E isto tanto para nos preservar da vaidade, como dito, quanto para nos incentivar na prática da modéstia, a principal característica do homem virtuoso, segundo o que o Espírito François-Nicolas-Madeleine expõe nas páginas de O Evangelho Segundo o Espiritismo: “Quero admitir que o homem que faz o bem sente no fundo do coração uma satisfação íntima, mas desde que essa satisfação se exteriorize para recolher elogios, degenera em amor-próprio”.

E há mais razões, de acordo com os princípios morais espírita-cristãos, para nos reduzirmos ao papel grandioso de servidores do Cristo: um deles é que não devemos buscar os primeiros lugares, conforme ensina Jesus; depois, na qualidade de médiuns, que todos o somos, precisamos estar conscientes de que se podemos algo em benefício do próximo, todo auxílio aos necessitados da alma é, em verdade, processado através de nós. Nesse aspecto, somos meros instrumentos dos bons Espíritos que, em nome de Jesus, o excelso governador do Planeta, dispensam todo o bem de que carecemos.

Servir desinteressadamente, portanto, deve ser o móvel de nossas ações no mundo, uma vez que não há recompensa maior que a alegria de sermos úteis ao Cristo na grande Obra de regeneração do mundo, regenerando a nós mesmos!

(*) Questão 625: Qual o tipo mais perfeito que Deus tem oferecido ao homem para lhe servir de guia e modelo? R – Jesus.


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