Francisco Muniz
Vamos buscar no Evangelho de Lucas o assunto de nossos comentários deste chuvoso dia 22 de outubro – desse modo, eis-nos às voltas com o versículo 10 do capítulo 22, no qual o evangelista trata dos “preparativos da ceia pascal”, a chamada última ceia que Jesus faria com seus apóstolos, os discípulos mais diretos, e a Bíblia de Jerusalém narra assim:
“Respondeu-lhes: ‘Logo que entrardes na cidade,
encontrareis um homem levando uma bilha de água. Segui-o até à casa em que ele
entrar’.”
Certo, Jesus estava fora de Jerusalém, exatamente no Horto das
Oliveiras. A cidade fortificada possuía várias portas, algumas delas guardadas por
soldados, como a da Torre Antônia, onde ficava o palácio de Pilatos. Outras
portas, porém, prestavam-se aos movimentos de animais, como a dos cavalos e a
das ovelhas, embora igualmente vigiadas. Possivelmente foi por esta última que
os enviados do Mestre foram encontrar o homem carregando a bilha d’água.
Alguém poderia perguntar como o Rabi sabia que esse homem
estaria ali fazendo aquilo e responderíamos que, como o Senhor de nossas almas,
o Cristo sempre sabe tanto quem somos, onde estamos, quais são nossas
intenções, como também o que estamos fazendo, seja para servi-lo, seja para
perturbar sua ação vitalizadora no planeta, complicando nossa situação. Por
isso ele nos chama sem cessar à participação em sua obra, a fim de obtermos a grande
recompensa prometida aos aflitos: “Vinde a mim todos vós que estais cansados...”
Médium de Deus, governador do planeta que ele mesmo formou,
por determinação do Criador, o Cristo contou desde o início com a colaboração
de muitos Espíritos, tanto desencarnados quanto encarnados, na realização de
sua tarefa missionária na Terra. Muitos desses colaboradores sequer tiveram
atuação direta nas ações do Messias, como era, talvez, o caso desse homem carregador
da bilha de água. Isso nos leva a entender que, sem que o suspeitemos, todos
somos cooperadores de Jesus, na esfera da própria atuação. Afinal, a obra do
Cristo, que consiste na elevação de nosso planeta na hierarquia dos mundos,
através do aprimoramento da raça humana, obedece a um plano adrede estabelecido
e em pleno cumprimento, apesar dos embaraços causados por nossa ignorância.
Assim, toda atividade que promova o bem geral é parte integrante
da grande obra de regeneração dos povos a se processar no planeta através dos
tempos, por mais insignificante seja esse trabalho. Nada é desprezado no
esforço que os homens somos chamados a fazer no intuito de completarmos a Obra
divina, desde que saibamos corresponder às supremas leis inscritas em nossa
consciência. O pouco aparentemente inexpressivo que fazemos contribui para a
harmonia do conjunto.
Em O Livro dos Espíritos, Allan Kardec nos informa que
toda atividade útil é trabalho e este, por sua vez, é lei universal: “Meu Pai
trabalha desde sempre e eu também trabalho”, disse-nos um dia o Nazareno (João
5:17), reafirmando nossa necessidade de nos esforçarmos sempre mais a fim de
obtermos as alegrias celestiais, ou, quando menos, as compensações que a Terra
nos cumula. Para tanto, é preciso, conforme indica o versículo em estudo, sairmos
de nossa posição cômoda e entrarmos na cidade, misturando-nos aos companheiros
de jornada, para que assim, cumprindo as suaves determinações do Cristo, sejamos
úteis à grande Obra, a benefício de nós mesmos.
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