Esta data no Evangelho (21 de outubro)

Francisco Muniz


O versículo 10 do capítulo 21 – ambos correspondendo, em nosso estudo, respectivamente ao mês e ao dia de hoje, 21 de outubro – traz ricos ensinamentos para nossa avaliação, de modo que o comentaremos de acordo com as luzes da Doutrina Espírita. O texto que ora nos ocupa está assim grafado na Bíblia de Jerusalém, que o coloca sob a epígrafe “Subida a Jerusalém”:

“Enquanto passávamos aí vários dias, desceu da Judeia um profeta, chamado Ágabo.”

Vamos, inicialmente, aos detalhes: o versículo refere as peripécias de Paulo de Tarso para chegar a Jerusalém, de volta da Grécia, a bordo de um navio; a estada de vários dias foi passada na cidade de Cesareia, na Galileia (que significa “jardim fechado”); a expressão subir a Jerusalém (ou descer da Judeia) se explica pelo fato de a capital dos judeus se localizar numa região elevada, embora fique, ainda hoje, ao Sul da Palestina. (“Ao longe o mar”, bela canção do grupo português Madredeus, embala o começo desta nossa escrita...)

Pois bem, Paulo e alguns companheiros estão hospedados em casa de Filipe, o “Evangelista, que era um dos Sete”; Filipe era pai de “quatro filhas virgens que profetizavam”, ou seja, eram jovens médiuns, o que traça um paralelo com a tarefa missionária de Allan Kardec, que contou com a colaboração das meninas Japhet e da adolescente Ermance Dufaux. No entanto, coube a Ágabo, que descera da Judeia, ir até eles e, “amarrando-se pés e mãos” (mais tarde, no séc. XIX, até o começo do séc. XX, os metapsiquistas procederiam assim com “sujets” como Eusápia Paladino, por exemplo) com o cinto de Paulo.

Então mediunizado (“Isto diz o Espírito Santo”, diz ele aos presentes), Ágabo revela que o dono do cinto seria preso em Jerusalém e entregue aos romanos. Ante a revelação, Lucas, autor dos Atos, e os demais tentam demover o apóstolo de suas intenções. Paulo, porém, recrimina-os: “Que estais fazendo, chorando e afligindo meu coração? Pois estou pronto, não somente a ser preso, mas até a morrer em Jerusalém (que significa “cidade da paz”), pelo nome do Senhor Jesus”. Nada mais havia a dizer, portanto, e assim somente uma frase sai dos lábios dos circunstantes resignados: “Seja feita a vontade do Senhor!”

Uma das lições que devemos tirar dessa passagem é que nossos propósitos, no tocante ao serviço do Cristo, envolve riscos e perigos, os quais não precisamos temer, por mais nos aconselhem o contrário, pois quem assim procede está preocupado apenas com nossa segurança material, e não com nossa felicidade em servir a Jesus. A esse respeito, podemos sempre ponderar acerca das orientações advindas de revelações espirituais, mas a decisão sempre nos caberá, porquanto temos o livre-arbítrio de nossas ações. Assim, as palavras contrárias ao planejamento que o Alto estabeleceu para nós não precisam ser tomadas como infalíveis e quem as pronunciou deve ser melhor esclarecido quanto aos desígnios de Deus.

O exemplo de Paulo não é único. Quando condenado à morte sob a acusação de corromper a juventude ateniense por ensinar a verdade da realidade do Espírito imortal, o filósofo Sócrates foi levado à prisão e lá recebia os amigos e discípulos que tentavam fazer com que fugisse, pois até mesmo a porta de sua cela era deixada aberta. Sócrates, porém, consolava-os ensinando que seus juízes não tinham o poder de matá-lo, apenas a seu corpo – e, como os aprendizes do Espiritismo já sabem, o corpo é apenas a prisão momentânea da alma imortal. “Mas, Sócrates”, lamentou-se uma vez Xantipa, sua esposa: “Essa condenação é injusta!” O filósofo, entretanto, não se abateu e perguntou de volta: “E você queria que ela fosse justa?”

Sejamos, pois, como essas grandes almas e, em nome do amor do Cristo, afrontemos as dificuldades do caminho e cresçamos em sabedoria para melhor servir ao Divino Mestre!


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