Francisco Muniz
“Enquanto passávamos aí vários dias, desceu da Judeia um
profeta, chamado Ágabo.”
Vamos, inicialmente, aos detalhes: o versículo refere as
peripécias de Paulo de Tarso para chegar a Jerusalém, de volta da Grécia, a bordo
de um navio; a estada de vários dias foi passada na cidade de Cesareia, na
Galileia (que significa “jardim fechado”); a expressão subir a Jerusalém (ou
descer da Judeia) se explica pelo fato de a capital dos judeus se localizar
numa região elevada, embora fique, ainda hoje, ao Sul da Palestina. (“Ao longe
o mar”, bela canção do grupo português Madredeus, embala o começo desta nossa
escrita...)
Pois bem, Paulo e alguns companheiros estão hospedados em
casa de Filipe, o “Evangelista, que era um dos Sete”; Filipe era pai de “quatro
filhas virgens que profetizavam”, ou seja, eram jovens médiuns, o que traça um
paralelo com a tarefa missionária de Allan Kardec, que contou com a colaboração
das meninas Japhet e da adolescente Ermance Dufaux. No entanto, coube a Ágabo,
que descera da Judeia, ir até eles e, “amarrando-se pés e mãos” (mais tarde, no
séc. XIX, até o começo do séc. XX, os metapsiquistas procederiam assim com “sujets”
como Eusápia Paladino, por exemplo) com o cinto de Paulo.
Então mediunizado (“Isto diz o Espírito Santo”, diz ele aos
presentes), Ágabo revela que o dono do cinto seria preso em Jerusalém e
entregue aos romanos. Ante a revelação, Lucas, autor dos Atos, e os demais tentam
demover o apóstolo de suas intenções. Paulo, porém, recrimina-os: “Que estais
fazendo, chorando e afligindo meu coração? Pois estou pronto, não somente a ser
preso, mas até a morrer em Jerusalém (que significa “cidade da paz”), pelo nome
do Senhor Jesus”. Nada mais havia a dizer, portanto, e assim somente uma frase
sai dos lábios dos circunstantes resignados: “Seja feita a vontade do Senhor!”
Uma das lições que devemos tirar dessa passagem é que nossos
propósitos, no tocante ao serviço do Cristo, envolve riscos e perigos, os quais
não precisamos temer, por mais nos aconselhem o contrário, pois quem assim
procede está preocupado apenas com nossa segurança material, e não com nossa
felicidade em servir a Jesus. A esse respeito, podemos sempre ponderar acerca
das orientações advindas de revelações espirituais, mas a decisão sempre nos
caberá, porquanto temos o livre-arbítrio de nossas ações. Assim, as palavras
contrárias ao planejamento que o Alto estabeleceu para nós não precisam ser
tomadas como infalíveis e quem as pronunciou deve ser melhor esclarecido quanto
aos desígnios de Deus.
O exemplo de Paulo não é único. Quando condenado à morte sob
a acusação de corromper a juventude ateniense por ensinar a verdade da
realidade do Espírito imortal, o filósofo Sócrates foi levado à prisão e lá
recebia os amigos e discípulos que tentavam fazer com que fugisse, pois até
mesmo a porta de sua cela era deixada aberta. Sócrates, porém, consolava-os
ensinando que seus juízes não tinham o poder de matá-lo, apenas a seu corpo –
e, como os aprendizes do Espiritismo já sabem, o corpo é apenas a prisão
momentânea da alma imortal. “Mas, Sócrates”, lamentou-se uma vez Xantipa, sua
esposa: “Essa condenação é injusta!” O filósofo, entretanto, não se abateu e perguntou
de volta: “E você queria que ela fosse justa?”
Sejamos, pois, como essas grandes almas e, em nome do amor
do Cristo, afrontemos as dificuldades do caminho e cresçamos em sabedoria para
melhor servir ao Divino Mestre!
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Abra sua alma!