Esta data no Evangelho (20 de outubro)

Francisco Muniz




A juventude, em muitos casos, é a fase da inconsequência, quando, apesar de toda as recomendações paternas e maternas, escolhemos tomar as rédeas de nossa vida segundo a própria vontade, seguindo por desvios do caminho que, sem sabermos, vão desaguar em situações muitas vezes indesejáveis. Mas tudo corresponderá às experiências que somos chamados a fazer até que resultem em aprendizado que promova as mudanças necessárias ao crescimento espiritual. Mas há, felizmente, quem consiga trilhar em linha reta, correspondendo desde o início às orientações recebidas ao longo da vida.

“Então ele replicou: ‘Mestre, tudo isso eu tenho guardado desde minha juventude’.”

Esse é o texto do versículo 20 do capítulo 10 do Evangelho de Marcos, iniciado, na Bíblia de Jerusalém, sob a epígrafe “O homem rico”, que estudaremos neste dia 20 de outubro, no âmbito de nosso programa envolvendo algumas passagens do Novo Testamento sob a luz da Doutrina Espírita, a chave que Allan Kardec nos legou a fim de devassarmos os mistérios do Evangelho.

Como se percebe, o versículo é parte do diálogo travado entre Jesus e o moço rico que procurara o Senhor com o intuito de segui-lo. Segundo o texto de Marcos, o Mestre amou esse jovem ao ouvi-lo proclamar sua adesão ao cumprimento dos mandamentos desde a juventude. Sendo assim, que ele cumprisse também a última parte do processo de iniciação do Espírito para alcançar a dimensão do Reino dos Céus: vender tudo que possuía e dar aos pobres; só depois disso seria possível seguir as pegadas de Jesus. Mas, assim como muitos de nós, esse rapaz não estava ainda pronto para renunciar a si mesmo e fazer o sacrifício de tudo que constituía sua personalidade perante o mundo. Assim, pesaroso, ele deixa a presença do Cristo...

A vida de Jesus, já dissemos aqui, algumas vezes, é uma bela metáfora de nossa própria jornada espiritual: até os 30 anos, ou seja, durante toda sua juventude, ele, que mais tarde diria ter vindo para cumprir a Lei, esteve fielmente atento aos mandamentos, sendo responsável pelos afazeres domésticos com vistas à sobrevivência de sua família. Somente com a emancipação de seus outros irmãos é que o Nazareno deixa seu anonimato para revelar-se ao mundo na missão de ensinar a lição do sacrifício pessoal em benefício da coletividade. O trabalho que antes era individual, em pequena escala, ganhou, agora, nova dimensão, abarcando a Humanidade inteira.

A juventude, portanto, é o período da vida do Espírito encarnado em que ele é chamado a observar valores e princípios que nortearão sua trajetória adulta, nos vários setores de atuação – trabalho, família, vida social e religiosa –, para corresponder aos impositivos da Lei de Evolução gravados em sua consciência. Assim refletindo, devemos convir que, se não gozamos da relativa tranquilidade em meio às provas que nos trouxeram ao mundo, é que não fomos suficientemente prudentes deixando de ouvir os conselhos daqueles encarregados de nossa criação.

Mas nada se perde na economia espiritual e, se não podemos voltar atrás para fazermos um novo começo, podemos recomeçar sempre e fazermos um novo fim, conforme ponderava o médium Francisco Cândido Xavier. Vale dizer que não somos mais jovens – e refiro-me a mim mesmo – unicamente do ponto de vista corporal, porquanto ainda nos encontramos em plena adolescência espiritual (há quem, entre nós, ainda se veja e se mostre na infância do Espírito...). Começamos a despertar para a Realidade verdadeira e isso implica em reconsiderarmos nossa trajetória até aqui e, principalmente, daqui para diante, pois as experiências se sucedem e o futuro não tarda a chegar.


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