Esta data no Evangelho (19 de outubro)

Francisco Muniz




O capítulo 19 do Evangelho de João dá prosseguimento aos assuntos reunidos sob a epígrafe “Jesus diante de Pilatos”, iniciada ainda no capítulo 18. Trata-se, portanto, do julgamento do Messias pelo governador romano da Judeia, Pôncio Pilatos. O versículo 10, que comentaremos hoje, dia 19 de outubro, revela tanto a irritação quanto a perplexidade do representante de César ante o Rabi nazareno. Jesus acabara de ser flagelado e escarnecido com uma coroa de espinhos; os soldados jogaram sobe ele um manto de cor púrpura e o esbofetearam enquanto zombavam chamando-o “rei dos judeus”.

Após isso, Pilatos levou o Mestre à presença da multidão, dizendo não ter encontrado nele nenhum motivo para condenação. Os chefes dos sacerdotes, porém, açulando a claque comprada à custa de alguns denários (1), gritaram pedindo a crucificação do Justo. “Tomai-o vós e crucificai-o, porque eu não encontro culpa nele”, acovardou-se o governador, permitindo que os judeus argumentassem ter uma Lei conforme a qual Jesus deveria morrer “porque se fez Filho de Deus”. É quando Pilatos volta-se para novo interrogatório do Cristo, perguntando-lhe de onde era, não obtendo qualquer resposta. É aqui que colocamos o versículo que nos interessa:

“Disse-lhe, então, Pilatos: ‘Não me respondes? Não sabes que eu tenho poder para te libertar e poder para te crucificar?”

Quando liguei o computador para escrever estas linhas, tocava a bela melodia de “Manhã de carnaval” e deixei-me levar ao ritmo da música de Luiz Bonfá e do letrista Antônio Maria: “Manhã, tão bonita manhã / Na vida, uma nova canção / Cantando só teus olhos / Teu riso, tuas mãos / Pois há de haver um dia / Em que virás (...)” Ouvir melodias como a dessa música é como se entregar ao silêncio ante os barulhos do mundo. Assim foi, imagino, a posição de Jesus perante seu interrogador, preferindo manter-se silente ante a arrogância do representante do imperador romano e da buliçosa e imprecadora multidão dos judeus agitados.

O Cristo até nos ensina: por que respondermos às questões sem sentido de pessoas que se acreditam mais poderosas e o são unicamente do ponto de vista da materialidade? Pilatos, efetivamente, só tinha o poder de libertar ou crucificar corpos, desconhecedor que era da realidade do Espírito imortal. Tal poder decorre tão somente da ignorância do que se é, alimentado pela condição orgulhosa em que o ser se encontra momentaneamente. No livro Há 2.000 Anos, Emmanuel, seu autor espiritual, relata (2) seu inusitado encontro com Jesus de Nazaré, no qual o Mestre questionava a pose do orgulhoso patrício, afirmando que seu saber, tanto quanto o poder, tinha limites bem estreitos nos horizontes do mundo...

O orgulho é, pois, uma grande chaga a atrapalhar a jornada evolutiva do Espírito na Terra, sendo o responsável, junto com o egoísmo, pelo atraso moral da Humanidade, que só tem progredido materialmente, intelectualmente. O Mestre Nazareno, contudo, oferece-nos a lição da humildade, convidando-nos ao esforço de domar o ego através do serviço desinteressado junto aos mais necessitados, a fim de que o orgulho e o egoísmo percam terreno em nossa personalidade. Para tanto, faz-se mister adotarmos uma postura mais simples perante a vida, para que nos preparemos condignamente para nossa reentrada no mundo da verdade, que é o plano espiritual, no futuro que não tarda.

Notas
(1) Moedas que circulavam na Palestina de dois mil anos atrás, das quais deriva a palavra dinheiro. 
(2) Psicografia de Francisco Cândido Xavier, ed. FEB.

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