Francisco Muniz
“E a todo aquele que disser uma palavra contra o Filho do Homem, ser-lhe-á perdoado; mas ao que houver blasfemado contra o Espírito Santo, não lhe será perdoado.”
Esse é o texto do versículo 10, correspondente a este mês,
do capítulo 12 do Evangelho de Lucas, escolhido para os comentários deste dia
12 de outubro, no âmbito de nosso estudo de algumas passagens do Novo
Testamento, conforme as orientações do Espiritismo. Hoje, quando se festeja
entre nós tanto o dia dedicado às crianças quanto a padroeira do Brasil, N. S.
Aparecida, homenageamos, com estas linhas, nossos netos, Pedro, Laura e
Ulisses (e Otto).
No livro que judeus e cristãos dividem – a Bíblia, embora o
Judaísmo só trate da primeira parte – encontram-se, no Velho Testamento, os dez
mandamentos da lei de Deus recebidos por Moisés. O primeiro desses mandamentos
prega que não se deve fazer nem adorar imagens de nada que esteja no céu nem
que esteja na Terra.
O Cristo, em vários momentos de sua pregação, deixou claro
que veio confirmar a lei e não destruí-la. E mais: ele ensinou que só se deve
adorar a Deus. Como filho de Deus, jamais pediu exclusividade ou participação
nos atos de adoração. No máximo, limitou-se a dizer que nosso amor por ele deve
ser manifestado pelas atitudes de caridade e compaixão pelo próximo.
Dito assim, conclui-se que nossa repulsa à iconoclastia dos
outros só ofende a nossa equivocada idolatria. Quando amadurecermos um pouco
mais nosso senso de compreensão das coisas sagradas, perceberemos que toda
adoração é um ato íntimo e individual no sentido de aprimorar nossa condição
espiritual no caminho da evolução.
Então, sim, a iconoclastia do nome do Cristo é um ato
perdoável, até porque Deus julga muito mais a intenção do que a ação dos homens,
conforme é dito em O Livro dos Espíritos (1), onde os Espíritos Superiores
repetem, na Codificação, o que está em Provérbios (16:2-9), no livro de
Jeremias (17:10) e também na carta de Paulo aos Romanos (8:27).
Contudo, imperdoável, segundo o texto que examinamos
presentemente, é blasfemar contra o Espírito Santo, o que poderíamos
interpretar como intolerância religiosa, desrespeito ao direito de culto que
todos têm. Tal desrespeito nasce do preconceito de crença e do orgulho de
classe – tudo se resumindo na ignorância quanto à realidade do Espírito imortal.
Mais especificamente, a expressão “Espírito Santo” se refere
ao próprio Criador, que em seu aspecto imanente está presente em cada ser, e
muito mais especialmente no homem, sendo aquele Pai amoroso que Jesus nos
apresentou. Agir mal para com Deus será, pois, atuar contra si mesmo, um contrassenso que somente o
amadurecimento psicológico pode corrigir.
De forma mais abrangente, blasfemar contra Deus é desprezar
sua Criação, fazendo pouco do que é sagrado, mormente no que tange ao uso da
mediunidade, que não pode ser conspurcada por interesses inferiores. “A
mediunidade é coisa santa, que deve ser praticada santamente, religiosamente”,
pondera Allan Kardec em O Evangelho Segundo o Espiritismo (2).
Entendemos, desse modo, que o intercâmbio com o mundo
espiritual não deve ser fraudado, mistificado ou mesmo desprezado, uma vez que,
sendo natural – obedecendo às leis naturais, portanto –, ele tem uma finalidade
útil. A superstição, tanto quanto a defesa de interesses escusos de grupos, fez
com que, no passado, muitos médiuns naturais fossem perseguidos e mortos. Hoje,
com o esclarecimento que o Espiritismo nos faculta, já não é admissível tal
comportamento equivocado.
Notas:
(1) Questões 661, 669 e 673.
(2) Cap. XXVI, item 10.
Comentários
Postar um comentário
Abra sua alma!