Francisco Muniz
“A fé exemplar dos antigos” intitula o capítulo 11 da Epístola
de Paulo aos Hebreus, em cujo versículo 10 encontramos o assunto para nosso
comentário neste dia 11 de outubro. Eis, então, o texto obtido na Bíblia de
Jerusalém, que procuraremos interpretar de acordo com as orientações da
Doutrina Espírita:
“Pois esperava a cidade com os seus fundamentos, cujo
arquiteto é o próprio Deus.”
O Apóstolo dos Gentios, aí, está falando da fé de Abraão,
mas ele começa citando personagens mais antigas do Velho Testamento, desde Abel
até Noé, passando por Henoc, sem esquecer do fato de que a ideia de Deus está
presente em todos os homens, justificando o sentimento de fé no Criador de
todas as coisas: “Foi pela fé que compreendemos que os mundos foram organizados
por uma palavra de Deus. Por isso é que o mundo visível não tem a sua origem em
coisas manifestas”.
“Fé é a adesão de forma incondicional a uma hipótese que a
pessoa passa a considerar como sendo uma verdade sem qualquer tipo de prova ou
critério objetivo de verificação, pela absoluta confiança que se deposita nesta
ideia ou fonte de transmissão” – tal é a definição acadêmica, dicionarizada, do
sentimento que move as criaturas na direção do progresso, tanto pelo caminho da
religião (sentido vertical) quanto pela via meramente humana (sentido horizontal),
conforme o pensamento de Allan Kardec, para quem a fé é tanto humana quanto
divina.
Citando Abraão, Paulo nos fala de uma construção (“a cidade
com seus fundamentos”) “cujo arquiteto é o próprio Deus”, ou seja: nosso inato
sistema de crenças faz com que, em nome da fé em Deus, erijamos internamente um
templo dedicado ao Espírito, para o cultivo das “coisas do meu Pai”, para nos
valermos da expressão usada pelo adolescente Jesus quando sua Mãe foi recambiá-lo
no Templo de Jerusalém, após uma festa de Páscoa...
Isso nos remete a Carlos Torres Pastorino, que em sua obra Sabedoria
do Evangelho explica, pedagogicamente, as três dimensões de nosso templo
interior, vinculado ao templo externo, que é o corpo material. De acordo com
Pastorino, há, portanto, uma sutil diferença entre o Espírito e a alma, ainda
que Kardec nos tenha feito entender ser esta o Espírito encarnado. Para
Pastorino, o Espírito é a instância máxima de nossa mente ou personalidade,
ligada diretamente à dimensão divina; abaixo dele está a alma, ligada às
questões materiais, ou humanas, sofrendo as vicissitudes próprias do corpo
físico.
A fé, em seu aspecto divino, consiste, assim falando, em acessarmos,
com a frequência possível, a dimensão espiritual, muitas vezes recorrendo à
prece, a fim de que não percamos o contato com nossa origem divina e assim
obtenhamos a força necessária para o enfrentamento dos desafios cotidianos. Já
no aspecto humano, a fé é o que nos impulsiona para as conquistas materiais
possibilitadoras do progresso individual ou coletivo, muitas vezes pela
violência, enquanto o ser não desperta para sua condição espiritual, quando
todas as suas atitudes, anseios e preocupações mudam de configuração, ganhando
real sentido.
Uma vez construído esse sistema de crenças, tendemos a não
nos desviarmos do caminho escolhido e só aceitamos o que a ele possa
corresponder. Quando Jesus disse, amorosamente: “Credes em Deus, crede também em
mim”, não titubeamos e, ainda que tivéssemos demorado em fazer essa opção, pela
necessidade de assimilarmos a verdade que ele representa, eis-nos aqui. Com o
Cristo, reconhecemos a dimensão da “cidade” arquitetada por Deus em nossa
essência espiritual e mais não queremos senão fortalecê-la em seus fundamentos,
desenvolvendo e engrandecendo a fé que nos move cada vez mais para frente e
para o alto!
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Abra sua alma!