Francisco Muniz
Na inauguração de um novo mês, nosso estudo vai observar hoje, dia 1 de outubro, o versículo 10 do primeiro capítulo do Evangelho de João, que no Prólogo de suas notícias dos feitos relativos a Jesus traz-nos o seguinte texto, colhido na Bíblia de Jerusalém, que tentaremos interpretar segundo os recursos da Doutrina Espírita:
“Ele estava no mundo e o mundo foi feito por meio dele,
mas o mundo não o reconheceu.”
O evangelista, tido como o mais místico dos apóstolos do Messias
– e isto porque João tinha suas faculdades medianímicas bastante aguçadas, além
de ser um Espírito de elevadas qualidades morais – inicia seu relato sobre o
Cristo falando do “Verbo” (ou Palavra), que estava em Deus no princípio de tudo
e que, justamente por isso, era Deus. Talvez por ter tomado ao pé da letra essa
alocução, a Teologia católica estabelecesse o dogma da divindade de Jesus,
tomando-o como o próprio Criador, mesmo tendo o apóstolo Paulo avisado que a
letra mata e o espírito vivifica, de modo que é preciso analisarmos o espírito
da letra.
Mas a palavra “verbo” denota, antes de mais nada, ação, o
que nos remete às palavras do Mestre afirmando que “Deus trabalha desde sempre,
e eu também trabalho” (1), e recorda o pensamento do filósofo Huberto Rohden
(2), para quem Deus é ação constante e se realiza em ato, de modo que ele é sempre
atual, não havendo passado nem futuro em Deus, que é a própria manifestação do
Tempo. Assim, o versículo citado fala-nos da estreitíssima relação do Cristo
cósmico com o Criador do Universo, mostrando-o como o cocriador que um dia
seremos, mas, como afirma João, isso o mundo – os homens – ainda não reconhece.
Em seu livro A Caminho da Luz (3), o Espírito
Emmanuel revela o papel de Jesus como o Divino Escultor, cujas mãos,
utilizando o cinzel do tempo e o material dos elementos à disposição, criou não
só o planeta onde provisoriamente estagiamos, como as condições facilitadoras
da vida como a conhecemos. Esse processo foi dado a conhecer a Moisés, que o
resumiu no Gênesis de uma maneira assaz poética, falando dos seis dias
da Criação. Allan Kardec, milênios após o autor do Pentateuco bíblico, decifraria
o poema mosaico ao utilizar a chave da Ciência – e então os dias da Criação se
revelaram como as eras geológicas, demorando muitos milhares de anos entre uma
e outra até que o Homem pudesse surgir sobre a face do planeta que o Cristo
governa desde então.
Era, então, a Terra um mundo primitivo e os espíritos aqui
presentes ensaiavam-se na experiência evolutiva – e em sua obra Evolução em
Dois Mundos (4) o Espírito André Luiz comenta os detalhes dessa gênese – e logo
receberiam a colaboração dos degredados que vieram do Sistema de Capela,
propiciando o progresso material no planeta. Do ponto de vista do
desenvolvimento moral, porém, tais espíritos ainda teriam muito que aprender e
por isso, depois de sucessivos avisos, marcados por abalos morais
consideráveis, o Cristo decide descer pessoalmente ao mundo para explicar a
seus amados irmãos menores a política do amor fraternal como forma de avançarem
um pouco mais depressa na direção do progresso espiritual.
A noite inolvidável do Advento anunciou, portanto, o
nascimento da Luz que jamais abandonará a Humanidade e convidava especialmente
os homens de boa vontade ao concerto que os Espíritos do Senhor executam em
uníssono de uma parte a outra do Universo. No entanto, o mundo ainda teima em
desconhecer o Divino Enviado, o Messias há tanto tempo aguardado, cuja vinda
fora profetizada no seio do próprio “povo escolhido”. Temos, agora, nesta tumultuada
fase de transição para um mundo regenerador, a oportunidade de reconsiderar
nossa posição e, inspirados quão iluminados pela Revelação espírita, modificar
nossa condição e cerrar fileiras com os fiéis servidores do Cristo, fazendo jus
ao salário dos bons trabalhadores.
Notas:
(1) – João 5:17-30.
(2) – Profanos e Iniciados, ed. Alvorada.
(3) e (4) – Psicografias de Francisco Cândido Xavier, ed.
FEB.
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