Esta data no Evangelho (6 de setembro)

Francisco Muniz


O versículo 9 do capítulo 6 do Evangelho de Lucas, abordando a “cura de um homem com a mão atrofiada”, constitui o cerne dos comentários de faremos neste dia 6 de setembro, seguindo nosso programa de estudo de algumas passagens evangélicas. Assim, o trecho que a Bíblia de Jerusalém nos oferece é este:

“Jesus lhes disse: “Eu vos pergunto se, no sábado, é permitido fazer o bem ou o mal, salvar uma vida ou arruiná-la”.”

Os fariseus não davam trégua a Jesus e nem ele desistia de ministrar seus ensinamentos de elevados conceitos, sempre que tinha oportunidade, não escolhendo dia certo para isso. Assim, até mesmo aos sábados, dia sagrado para os judeus, o Messias era visto dando lições e exemplos do que significava o Reino dos Céus.  E era um sábado, em Cafarnaum, quando ele entrou na sinagoga da aprazível cidade à beira do lago de Genesaré e ali estava um homem com a mão atrofiada.

Médium de Deus, Jesus dominava inúmeras faculdades da alma e até mesmo lia os pensamentos daqueles homens ainda distantes da realidade espiritual, podendo assim captar o que se passava na mente dos fariseus presentes: queriam ter do que acusá-lo. Desejoso de orientá-los uma vez mais quanto à relatividade da importância que davam ao sábado, o Cristo voltou-se para o aleijado e ordenou que ficasse de pé no meio de todos e fez a pergunta acima. Como ninguém respondesse, pediu que o homem estendesse a mão atrofiada e a fez voltar ao estado normal.

Tomemos o fato como uma metáfora e compreenderemos o que se sucedeu. Admitindo a veracidade do episódio, Pastorino (*) declara que a cura só se deu porque o aleijado já cumprira sua expiação, porquanto Jesus, que disse ter vindo para cumprir a Lei (a de Deus, que Allan Kardec resumiu sob a rubrica “Justiça, amor e caridade”), não realizava milagres, isto é, ele – tampouco o Criador – não podia derrogar a Legislação divina, uma vez sendo esta sábia e perfeita – imutável, portanto.

Assim, metaforicamente, a restituição da mão mirrada a seu “estado normal” deve ser hoje compreendida como uma determinação, um convite ao trabalho, santificando a oportunidade, as circunstâncias e o instrumento que o Senhor nos concede para o aperfeiçoamento de sua Obra da Terra como em toda parte do Universo. A mão, pois, é a ferramenta do corpo mais propícia para as atividades laborais e, como o trabalho é o meio para o progresso tanto material quanto material, deve ela estar em boas condições para realizar seu desiderato.

A “mão mirrada”, assim nos parece, é apenas um símbolo da preguiça, da incúria, da negligência ou mesmo da incapacidade momentânea que o homem manifesta no tocante às tarefas que concordou em desenvolver na Terra quando aceitou reencarnar. Sabemos que, chegando ao plano material pelo nascimento físico, o Espírito submete-se ao “véu do esquecimento” (vide O Livro dos Espíritos) e muito naturalmente, devido à sua inferioridade moral, dedica-se quase que exclusivamente às questões da matéria. É então que o Cristo entra em cena, restituindo-lhe a disposição para o trabalho de autoburilamento, não importando o que pensem ou falem ao redor.

Afinal, a tarefa de crescimento espiritual a que somos, todos nós, convocados a realizar a qualquer tempo é de natureza pessoal, individual e intransferível – e feita em silêncio, solitariamente. É, portanto, uma relação entre a criatura e seu Criador mediada pela ação determinante do Cristo, de modo que, não importando qual seja, hoje é o dia mais indicado para levantarmos de nossa imobilidade e, correspondendo ao esforço do Amigo divino, iniciarmos ou continuarmos nossa escalada até o objetivo maior: a perfeição espiritual.

Nota:

(*) Carlos Torres Pastorino, autor de Sabedoria do Evangelho, ed. Sabedoria.


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