Esta data no Evangelho (4 de setembro)

Francisco Muniz



Hoje, dia 4 de setembro, a Bíblia de Jerusalém apresenta-nos o versículo 9 do quarto capítulo do Evangelho de João para os comentários que faremos com base nos esclarecimentos da Doutrina Espírita. O Espiritismo, diz-nos Allan Kardec, seu codificador, é a chave que a Sabedoria divina nos revelou para descerrarmos os ensinamentos ocultos nas passagens evangélicas. Eis o versículo citado:

“Diz-lhe, então, a samaritana: “Como, sendo judeu, tu me pedes de beber, a mim que sou samaritana?” (Os judeus, com efeito, não se dão com os samaritanos.)”

Até hoje os judeus não se dão com os samaritanos, que podemos identificar com os palestinos, seus vizinhos, envolvidos que se encontram numa disputa aparentemente interminável. Mas não é de geopolítica ou de beligerância que queremos falar, mas de atitudes fraternas, de mãos estendidas à reconciliação, se bem compreendemos a posição de Jesus ante a mulher samaritana naquele dia, junto ao poço de Jacó.

Para fazer com que seus contemporâneos e, na atualidade, todos nós que nos dizemos cristãos, seus seguidores, portanto, compreendêssemos em que consiste o Reino de Deus, Jesus por duas vezes utilizou a figura dos samaritanos como parâmetro de comportamento no campo da caridade. O Mestre, a esse respeito, salientou que não há maior expressividade na prática do bem que no amor incondicional aos inimigos, através da prática do perdão e nas pequeninas ações que levem algum benefício ao próximo.

É preciso manifestar gentileza para com todos e, mais que isso, sermos sempre cordatos, ou seja, deixarmos que o coração, sede dos bons sentimentos, comande nossas ações na relação com o outro, quem quer que ele seja. Não podemos tornar amigo um inimigo muito facilmente, mas podemos fazer-nos amigo dele aceitando e compreendendo sua condição e respeitando os limites próprios dessa convivência, deixando sempre aberta a porta da reconciliação.

Assim como João, o evangelista, observa, afirmando que os judeus não se davam com os samaritanos, devemos, nós também, analisar nossa conduta e nos perguntarmos se ainda não conseguimos nos dar bem com alguém. A partir dessa reflexão, baseada nos mandamentos que o Cristo nos legou, é mister desenvolvermos esforços no sentido de criar laços de afeto com todos, mesmo que o coração experimente os arrepios próprios da assimilação fluídica causada pela diferença vibratória.

É necessário percebermos, sobretudo, que todos somos irmãos, filhos do mesmo Pai, na mesma experiência evolutiva e necessitados de apoio para tornar a jornada ao menos satisfatória, caso não possa ser plenamente vitoriosa. É certo que, sozinhos, motivados apenas pelo egoísmo que nos torna orgulhosos, não iremos muito longe. Não disse o poeta que é impossível ser feliz sozinho? Partilhar, portanto, é a palavra de ordem e, quanto mais abnegado for o coração, mais ele atrairá boas companhias que o estimularão a distribuir com todos as migalhas de afeto que alimentarão os infortunados.

O amor aos inimigos, aqueles que nos perseguem e caluniam, é, de acordo com Allan Kardec (*), não termos para com eles qualquer sentimento de animosidade; é querermos o bem deles e ficarmos felizes com seus bons sucessos. É sobretudo pensarmos que, como ensina Jesus, se fôssemos nós no lugar do outro, gostaríamos de por ele sermos bem tratados. E a Parábola do Samaritano grita bem alto em nossa consciência a importância desse modo de proceder.

(*) in O Evangelho Segundo o Espiritismo.

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