Esta data no Evangelho (23 de setembro)

Francisco Muniz


O capítulo 23 do Evangelho de Mateus contempla a epígrafe “hipocrisia e vaidade dos escribas e dos fariseus”, que Jesus combatia, e seu versículo 9 traz, na Bíblia de Jerusalém, o seguinte texto que comentaremos hoje, dia 23 de setembro, prosseguindo nossos estudos em torno de algumas passagens do Velho Testamento:

“A ninguém na terra chameis “Pai”, pois um só é o vosso Pai, o celeste.”

Essa recomendação de Jesus faz sentido ao sabermos que a palavra Pai (*) era, nos tempos apostólicos, tomada como título honorífico, conforme nota de rodapé da Bíblia de Jerusalém. Dava-se, portanto, a determinadas pessoas uma deferência respeitosa muitas vezes até maior do que aquela que devotamos ao pai biológico, nosso genitor. Não era raro, assim, que tal deferência superasse a própria devoção ao Altíssimo, o que desmerece o Criador e mereceu a admoestação do Cristo.

Ora, nada nem ninguém há, na Terra, que rivalize com a Divindade – lembram-se de que os faraós e os imperadores romanos se atribuíam essa condição? –, de forma que somente Deus merece o honremos com o título de Pai. Recordemos, também, que, respondendo a um daqueles fariseus sobre como devemos adorar a Deus, Jesus explicou que essa adoração deve ser de toda nossa alma, de todo nosso coração, de todo nosso entendimento!

Foi Jesus quem nos apresentou o Criador – a Inteligência Suprema, causa primeira de todas as coisas, segundo a Doutrina Espírita – com a denominação de Pai, modificando radicalmente a antiga visão do Senhor dos Exércitos, o Deus do Velho Testamento, um deus belicoso como os homens que o adoravam, votado à ira e à vingança – violento, portanto. Mas o evangelista João nos diz que Deus é amor; é o Pai que ama imensamente a cada um de seus filhos, fazendo por todos o que nem sempre o genitor biológico se estimula a realizar.  

É a esse Pai que devemos amar sem limite, procurando cumprir integralmente seus desígnios. Na oração do Pai Nosso, que o Nazareno nos ensinou, repetimos, depois de louvar e bendizer o nome do Altíssimo, lemos esta frase: “Seja feita a tua vontade assim na terra como no céu”. A vontade desse Pai amoroso é algo que deve ser meditado profundamente para ser conhecido e assimilado com a maior integralidade possível. E esse conhecimento parte necessariamente do que é divino em nós mesmos, o nosso céu mais íntimo, onde Deus se encontra.

Somos o binômio corpo e alma e tanto uma dessas partes quanto a outra são de origem divina, porquanto seja Deus o criador e mantenedor de todo que existe. Comungo do pensamento de Carlos Torres Pastorino e Huberto Rohden, para os quais somos a representação mínima (micro) da organização cósmica (macro) do Universo. Desse modo, o complexo celular de nosso corpo nos leva a entender que somos, todos os filhos de Deus, uma célula do corpo cósmico de Deus e do Cristo.

Assim compreendendo, e estando com a mente vibrando constante e intensamente na dimensão divina, atraímos para nós todos os benefícios que incessantemente a Providência derrama sobre nós: para a alma, na forma da tranquilidade que a fé proporciona; e para o corpo, na forma do equilíbrio orgânico que constitui a saúde física. A vontade de Deus, portanto, é que estejamos sempre bem e isto é o que um pai espera de seu filho, cumulando-o de bênçãos.

(*) “Abba”, em aramaico.


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