Francisco Muniz
Em Atos dos Apóstolos, o versículo 22 do capítulo 9 trata da “pregação de Saulo em Damasco”, de acordo com a classificação da Bíblia de Jerusalém. Note-se que o futuro apóstolo dos gentios ainda não adotara o cognome famoso de Paulo. Uma querida amiga vem me ajudar nessas reflexões e me diz que o nome Saulo significa “grande”, em grego, ao passo que Paulo quer dizer “pequeno”, o que revela a grandeza desse Espírito que se apequenou para engrandecer aquele que o talhou para uma tarefa incomparável. Eis o que diz o versículo que comentaremos hoje, dia 22 de setembro:
“Saulo, porém, crescia mais e mais em poder e confundia
os judeus que moravam em Damasco, demonstrando que Jesus é o Cristo.”
Lucas, médico grego que se tornou amigo do ex-doutor da lei
nascido na cidade de Tarso, informa que, após sua conversão, Paulo foi pregar
na sinagoga de Damasco, posto haver judeus na Síria, mas de maneira diversa dos
costumes e tradições judaicos. É claro que ele escandaliza seus antigos confrades
ao exaltar o Crucificado, admitindo que este é o Ungido (é isto que significa a
palavra grega “Cristo”). Jesus, portanto, é o ungido, o escolhido por Deus para
realizar tão grandiosa tarefa entre os homens.
E assim Saulo é escorraçado e obrigado a deixar a cidade ocultamente.
Até hoje os judeus não aceitam ter sido o filho do carpinteiro José o Messias,
ou seja, o enviado de Deus que veio para libertar o povo escolhido e toda a
Humanidade das prisões morais em que nos debatemos milenarmente. Em muitas
mentes, as tradições, ou seja, o aprendizado antigo, está tão arraigado que a
cultura se torna realmente visceral, difícil, portanto, de se transformar à
força de algumas palavras novas.
Nesse aspecto, Saulo não teve sucesso, assim como o próprio
Jesus, àquela época, porque a ação transformadora das massas leva o tempo do
amadurecimento individual, tanto sentimental quanto intelectualmente. Desse
modo, Saulo vai pregar fora do ambiente marcado pelo judaísmo, alcançando os
chamados gentios, quer dizer, os não-judeus, até mesmo no coração da
gentilidade: Roma, a sede do império romano, que pouco tempo depois se renderia
ao poder do amor (Roma virada pelo avesso!) proclamado pelo Nazareno quase um
século antes.
A esse respeito, lembramos que Allan Kardec, cerca de dois
mil anos depois desses acontecimentos, ao falar da Terceira Revelação, pondera
que toda ideia nova encontra necessariamente alguma resistência (*) e só se
impõe se estiver lastreada na Verdade. Fazia ele, no século XIX, o trabalho de
vanguarda realizado pelo apóstolo Paulo, que não se deixou abater pelos que tentaram
lhe cercear os passos, tornando-se o maior propagador das ideias cristãs que o
mundo já conheceu. Mas, assim como Jesus e Paulo, o que Kardec fez foi semear
as sementes que com o tempo germinarão e produzirão os frutos doces esperados.
Jesus é, sem contradita, o Cristo, o Messias esperado pela
Humanidade inteira para redimi-la dos erros e importa, agora, que tal
reconhecimento resulte em ação capaz de concretizar seu objetivo, para o que
contamos com o auxílio da Doutrina Espírita, mostrando-nos como proceder para nos
transformarmos e alcançar a Perfeição proposta pelo Mestre, hoje apresentado
como nosso modelo e guia. Assim, forçoso é reconhecermos nosso amadurecimento
psicológico para assumirmos a postura viril dos Espíritos comprometidos com os
ideais do Evangelho e caminharmos com firmeza na direção de nosso Destino.
(*) Ver O Livro dos Espíritos, Introdução ao Estudo
da Doutrina Espírita.
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