Francisco Muniz
O Evangelho de João garante hoje, dia 20 de setembro, o subsídio dos comentários que faremos no âmbito de nosso estudo de temas do Novo Testamento, sob as luzes da Doutrina Espírita. E como capítulo e versículo escolhidos correspondem à data, de acordo com o programa estabelecido para este estudo, vamos observar, na Bíblia de Jerusalém, o que nos diz o versículo 20 do capítulo 9 daquele livro:
“Seus pais então responderam: “Sabemos que este é nosso
filho e que nasceu cego”.”
Aí se trata da “cura de um cego de nascença” (epígrafe do
capítulo), episódio protagonizado por Jesus que mereceu do evangelista uma
extensa narrativa envolvendo os elevados conceitos da reencarnação, das vidas
sucessivas e da anterioridade do Espírito imortal, como também aqueles
relativos à mediunidade de cura, ao magnetismo e, no tocante às leis da
matéria, também da genética. Tudo isso é objeto de estudo nas obras de Allan
Kardec, especialmente em O Livro dos Espíritos, O Livro dos Médiuns
e A Gênese – importantes para a compreensão dos assuntos correspondentes
à natureza dos Espíritos, principalmente, como neste caso, quando estejam eles encarnados.
Assim, restringindo-nos ao texto destacado, vemos a
dificuldade que existe em se tratar de temas transcendentais, isto é, aqueles
que fogem à compreensão dos “simples mortais” vinculados à pobre expressão da
materialidade, sem a chave que permita abrir a porta de tais “mistérios”.
Chamados a dar explicações sobre a cura do cego de nascença, seus pais, cujos
conhecimentos não iam além das questões materiais, dizem aos doutores da Lei e
aos sacerdotes do Templo somente o óbvio: “Nasceu de nós desse jeito; se mudou,
não sabemos como nem por que nem por quem”.
Evidencia-se aí o que os Espíritos Superiores informaram a
Allan Kardec: os pais só transmitem aos filhos os caracteres genéticos
(questões 203 e seguintes de O Livro dos Espíritos), sendo que os demais
traços estão ligados às provas que o Espírito desenvolverá ao longo da
encarnação e cuja duração somente Deus conhece, daí acontecerem, por vezes, um
desses chamados “milagres” – que não são, é bom reforçar, derrogação das leis
divinas, mas o cumprimento dessas mesmas leis no tempo em que a provação chegou
ao fim conforme o esforço e o merecimento do Espírito na ativação de sua fé.
Ora, tendo vivido antes, o que justifica a reencarnação, o
Espírito realizou experiências que, a depender de sua natureza moral – nobre ou
inferior –, condicionarão as provas a que se submeterá nos renascimentos
subsequentes (não temos condições de quitar todos os débitos contraídos para
com a Lei, de modo que os pagamos em suavíssimas prestações, por assim dizer).
Assim, o que nos parece um “defeito de fabricação”, uma deficiência genética, é
apenas a consequência das escolhas – conscientes ou não, porque algumas provas
podem ser impostas – que o Espírito faz ao reencarnar, de modo que não foram
seus pais que pecaram para ele (re)nascer desse ou daquele modo.
Foi para instruir os homens acerca dessas e outras questões aflitivas
que o Espiritismo teve de ser revelado ao mundo, acompanhando o amadurecimento moral
e intelectual da Humanidade, porquanto o Cristo Jesus não encontrou condições
propícias para expor de modo claro todas as verdades relacionadas às leis de
Deus. Mas agora somos detentores desse conhecimento, o que quer dizer que não mais
somos ou estamos cegos, de forma que nossa responsabilidade é grande o
suficiente para prescindirmos da atuação de nossos pais em nosso
favor. Como seres individuais, nós mesmos teremos de prestar contas do aprendizado
renovador e libertador que o Cristo, em sua feição do Consolador prometido, nos
faculta.
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