Francisco Muniz
Além dos ensinamentos de Jesus, o Evangelho, principal conteúdo do Novo Testamento, também traz conselhos e admoestações que servem de aviso quanto à necessidade de observarmos nossa conduta perante a vida, especialmente no âmbito da família, em todo ambiente onde haja irmãos, consanguíneos ou não. É a partir dessa reflexão que comentaremos hoje, dia 2 de setembro, o nono versículo do segundo capítulo da primeira Epístola do apóstolo João, conforme apresentado pela Bíblia de Jerusalém:
“Aquele que diz que está na luz, mas odeia o seu irmão,
está nas trevas até agora.”
Pela filiação divina, todos os homens são irmãos, mas, contraditoriamente,
estamos ainda divididos por falsas crenças e circunstâncias separatistas, como
as ideias de raça, sangue, família, tribo, nação, país... Desse modo, não
estranha que a competição seja a marca dos relacionamentos no mundo, levando os
homens à exploração de uns sobre os outros, significando o esquecimento do Pai
criador e suas recomendações quanto às manifestações de fraternidade. Eis por
que o traço comum entre as civilizações que se sucedem no mundo seja a guerra e
o belicismo, em consequência, seja uma de nossas principais características –
vencê-la é então nosso esforço.
E, para fazer com que tal estado de coisas chegue a um
termo, a Divindade nos tem oferecido os mais diversos mecanismos e
oportunidades, facilitando o reajustamento entre os irmãos, os filhos rebeldes
daquele Pai que nos ama imensamente e espera a Eternidade inteira que voltemos ao
seu colo magnânimo. Um desses mecanismos é a reencarnação, através da qual espíritos
que se inimizaram têm a oportunidade de retornar às experiências na Terra no
mesmo ambiente familiar, às vezes, desde o ventre materno, como irmãos gêmeos. Dessa
forma entendemos por que Jesus afirmou ser preciso nos reconciliarmos depressa
com nossos adversários enquanto estamos a caminho com eles.
A propósito, ao se referir à família universal, aquela na
qual os participantes comungam dos mesmos ideais, guardando, portanto, as
mesmas afinidades, Jesus declarou que seus irmãos são os que fazem a vontade do
Pai. Assim, além de obedecerem às determinações de seus pais biológicos, os
irmãos têm por dever cumprirem
os mandamentos da Lei de Deus, como forma de conjurarmos os frutos de “eras
sombrias”, no dizer de Eusébio (1). São tempos, segundo ele, “caracterizados
pela opressão e maldade recíprocas, em que temos vivido, odiando-nos uns aos
outros”. Desse modo, “vemos a Terra convertida em campo de quase intérminas
hostilidades”, salienta o orientador do Espírito André Luiz.
É então que
o mecanismo do perdão precisa ser buscado e conscientemente utilizado para
proveito de ambas as partes envolvidas na querela, a partir da compreensão da resposta
de Jesus à pergunta do apóstolo Pedro: “Quantas vezes perdoarei a meu irmão?” –
“Perdoar-lhe-eis não sete vezes, mas setenta vezes sete vezes.” Sobretudo, a
recomendação do Espírito Simeão (2) sobre o perdão das ofensas merece ao menos uma
reflexão: “Eis uma dessas palavras de Jesus que mais devem atingir a vossa
inteligência e falar mais alto ao vosso coração.”
“Comparai
essas palavras de misericórdia com as da oração tão simples, tão resumida e tão
grande em suas aspirações, que Jesus dá aos seus discípulos, e encontrareis
sempre o mesmo pensamento.” Certo, Simeão se refere à oração do Pai Nosso, na
qual, recitando-a, pedimos a complacência divina, condicionando-a, porém, ao
nosso perdão “a quem nos tenha ofendido”. Mas o Instrutor espiritual pondera
que perdoar as ofensas é uma atitude inteligente. Com efeito, “perdoar os
inimigos é pedir perdão para si mesmo: perdoar aos amigos, é dar-lhes uma prova
de amizade; perdoar as ofensas é mostrar que se tornou melhor”, completa o
apóstolo Paulo, com esta ressalva: “Ai daquele que diz: “Eu nunca perdoarei”,
porque pronuncia a sua própria condenação” (3).
***
Notas:
(1) – Francisco C. Xavier, No Mundo Maior, pelo Espírito André Luiz, ed. FEB, 1995.
(2) – Allan
Kardec, O Evangelho Segundo o Espiritismo, ed. IDE, 2009.
(3) –
Idem, ibidem.
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