Francisco Muniz
O orgulho, “esse filho espúrio do egoísmo” (*), está no centro dos comentários suscitados pelo versículo 9 do capítulo 18 do Evangelho de Lucas que faremos hoje, 18 de setembro, em continuação de nosso estudo em torno de algumas passagens do Velho Testamento, sob a inspiração da Doutrina Espírita. A Bíblia de Jerusalém, utilizada neste programa, narra o versículo a partir da epígrafe “O fariseu e o publicano”, personagens observadas pelo Messias:
“Contou ainda esta parábola para alguns que, convencidos
de serem justos, desprezavam os outros (...)”
De acordo com o que Allan Kardec ensina em O Livro dos
Espíritos, reproduzindo as orientações dos Espíritos Superiores, duas
máculas morais caracterizam o homem na Terra: o orgulho e o egoísmo. São dois
males gerados pelo materialismo cujo antídoto se encontra nas manifestações de
humildade e caridade, virtudes das quais Jesus deu provas inequívocas, como na
parábola registrada por Lucas (18:9-14), afirmando que a oração do publicano (considerado
“homem de má vida” por ser cobrador de impostos, como Levi e Zaqueu) que se
humilhava perante Deus era bem mais agradável ao Criador do que a do fariseu
orgulhoso que rezava de nariz empinado, exaltando-se perante o Todo-Poderoso. “Pois
todo o que se exalta será humilhado, e quem se humilha será exaltado”, conclui
o Mestre, na narrativa que ora apreciamos.
No versículo destacado, Lucas ressalta a empáfia dos homens
orgulhosos, que desprezam os outros acreditando-se infalíveis em seu julgamento,
“convencidos de serem justos”, isto é, detentores de todo conhecimento, de todas
as verdades, de toda sabedoria. Os fariseus do tempo de Jesus viam-se a si
mesmos assim, com honrosas exceções, pelo único motivo de conhecerem as
Escrituras, como se diz, “de cor e salteado”. No entanto, seu comportamento
destoava completamente do texto que repetiam aos outros, merecendo assim todas
as admoestações do Cristo, que os via como “sepulcros caiados: limpos por fora e
cheios de podridão por dentro”, tal era sua hipocrisia.
Vale considerar que os fariseus do passado, tão senhores de
si, encontram-se presentes junto a nós e talvez sejam alguns de nós, porquanto
as mudanças de caráter demoram algumas encarnações para se realizarem. E se
julgarmos que as amorosas lições de Jesus, transmitidas há pouco mais de dois
mil anos, ainda não foram sequer compreendidas, tampouco assimiladas, nossa
transformação íntima, malgrado todo o conhecimento adquirido na atualidade, vai
exigir mais alguns séculos. Mas importa reconhecermos, desde já, a enfermidade
que nos acomete a alma e buscarmos logo a cura, que virá através do remédio
correspondente à natureza do mal.
No Evangelho, vemos Jesus agradecendo ao Pai por ocultar os
mistérios do Reino dos Céus aos “sábios e prudentes” e os revelar aos “simples e
pequeninos” (Mateus 11:25). Os primeiros somos nós em nossa postura farisaica, arrogantes,
metidos a sabe-tudo, enquanto os outros são os humildes, reconhecedores da própria
ignorância. Assim, enquanto os orgulhosos ou se mostrem indiferentes a Deus ou
o procurem para impor sua vontade, num eterno petitório, os simples se submetem
à vontade Divina e apenas agradecem os benefícios recebidos, mesmo que estes
venham em forma de privações, que resignadamente aceitam sem murmurar.
Não é por outra razão que o apóstolo Paulo se refere à
necessidade de o “homem velho” dar lugar, urgentemente, ao “homem novo” comprometido
com os valores evangélicos. A esse respeito, o Mestre pede que vistamos a “túnica
nupcial” a fim de podermos, de fato e de direito, participar do banquete
espiritual, porquanto nossas vestes morais estão rotas e não é possível, como o
Cristo observou (Mateus 9:16), colocar “remendos novos em panos velhos”.
Nota:
(*) Joanna de Ângelis, em mensagem ditada em 24 de agosto de 2011, através do médium Divaldo Franco, em Salvador.
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