Esta data no Evangelho (17 de setembro)

Francisco Muniz



Sob a epígrafe “Cristo sela a nova Aliança pelo seu sangue”, o versículo 17 do capítulo 9 da Epístola de Paulo aos Hebreus constitui o assunto de nossos comentários neste dia 17 de setembro. Vamos, então, ao texto, valendo-nos da Bíblia de Jerusalém, o qual procuraremos interpretar, o quanto possível, segundo as luzes da Doutrina Espírita:

“O testamento, de fato, só tem valor no caso de morte. Nada vale enquanto o testador estiver vivo.”

O Apóstolo dos Gentios reafirma a mediação de Jesus numa nova aliança, agora não apenas com os judeus, mas com toda a Humanidade, o que é feito a partir da morte do Senhor, “para o resgate das transgressões cometidas no regime da primeira aliança”, de modo que “aqueles que são chamados recebem a herança eterna que foi prometida”.

Recordo-me de ter conhecido, há vários anos, o professor de Filosofia Antonio Carlos, um dos internos do asilo de idosos que costumava visitar com alguns dos integrantes de um grupo de estudos espíritas. Leitor voraz e com todo o tempo disponível, Antonio Carlos, de quem me tornei amigo, lia tudo que lhe caía sob o olhar e conhecia de cor tanto o Velho quanto o Novo Testamento. Por conta disso, eu lhe perguntei, durante uma das visitas: “Se você já leu de cabo a rabo o Novo e o Antigo Testamentos, com quem fica a herança?” Meu amigo filósofo não titubeou: “Com o testamenteiro!”

Paulo nos apresenta Jesus, o Cristo, como “testador” e esta palavra tem duas acepções, ambas correlatas: 1 – “que ou aquele que faz um testamento; testante”; e 2 – “que ou aquele que dá testemunho de alguma coisa”. Durante seu messianato, o Mestre tudo o que fez foi dar testemunho do Reino dos Céus, o qual era seu desejo que herdássemos: “Eu vim para atear fogo ao mundo e tenho pressa que ele se acenda!” (Lucas 12:49)

Mas ainda que sejamos herdeiros desse Reino, é preciso merecê-lo e o fazemos cumprindo as determinações do testador, ou testamenteiro, sendo-lhe integralmente fiéis, indo além das palavras do Velho Testamento a esse respeito, ao afirmar que “Deus é fiel”. Com efeito, o Pai amantíssimo cumpre fielmente sua parte no acordo firmado com os homens, desde a Aliança com os hebreus, o que Paulo relembra em sua Carta.

O apóstolo afirma, porém, que a antiga Aliança sofreu transgressões, o que podemos observar hoje no tocante à herança cristã, também ela corrompida e deturpada até a vinda do Paráclito, o Consolador ou Espírito de Verdade que na roupagem do Espiritismo veio nos facilitar a conquista do Reino dos Céus e instalá-lo com brevidade e eficácia no coração. Com os novos conhecimentos, revelados há quase 200 anos pelo esforço incansável de Allan Kardec, codificador desses ensinamentos, compreendemos o que é ser de fato um herdeiro das alegrias celestiais, o que significa herdar a chamada vida eterna.

O que ressalta das palavras do Apóstolo dos Gentios é a necessidade de se morrer para validar os termos do testamento, ou seja, é preciso, assim como mostrou Jesus, com toda ênfase, e ensina Paulo, que o “homem velho”, comprometido com os valores perecíveis do mundo material, morra e dê lugar ao “homem novo”, assumindo compromisso com as verdades proclamadas pelo Cristo, porquanto imortais. Não basta, portanto, apenas a morte física! É necessário haver completa renovação espiritual em função da vivência e participação no luminoso banquete nupcial.


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