Francisco Muniz
É do Evangelho de João o tema que comentaremos hoje, dia 14 de setembro, abordando o versículo 9 do capítulo 14, no qual o evangelista relata um interessantíssimo diálogo entre o Mestre e seus apóstolos. Vamos ao texto da Bíblia de Jerusalém:
“Diz-lhe Jesus: “Há tanto tempo estou convosco e tu não
me conheces, Filipe? Quem me viu, viu o Pai. Como podes dizer: ‘Mostra-nos o
Pai!’?”
O citado diálogo aconteceu antes da prisão e processo que
culminou no sacrifício de Jesus na cruz, quando o Messias preparava seu colégio
apostolar para os momentos dolorosos que se aproximavam. Mas não é disso que
trataremos aqui; fiquemos com o que o versículo quer nos dizer quando João fala
de conhecer o Cristo, que é o mesmo que conhecer o Pai.
De acordo com os exegetas, os estudiosos e intérpretes do
Evangelho, é entendimento comum que o Messias realizou seu trabalho, pastoreando
as “ovelhas perdidas da casa de Israel”, durante apenas três anos. Nesse
período, ele submeteu 12 apóstolos mais 500 outros discípulos a uma disciplina
com o intuito de fazê-los conhecer e se afeiçoarem à proposta de autotransformação
que chamou de Reino de Deus, ou dos Céus.
Essa disciplina consistia em acompanharem-no nos constantes deslocamentos
de Norte a Sul pela Palestina, ouvirem e entenderem seus ensinamentos e
participarem dos acontecimentos prodigiosos que ele, o Mestre do Espírito,
protagonizava em Jerusalém, em Cafarnaum, em Jericó ou qualquer das cidades e
aldeias daquela região – e tudo isso em nome de Deus, “daquele que me enviou”,
conforme dizia, acrescentando que sua doutrina provinha do Pai.
Isso nos deve calar fundo, porque o Cristo é, em verdade,
parte integrante de nossa essência espiritual e é nele que nos transformaremos
quando realizarmos, por nossa vez, nossa união com o Pai. Assim, vale a
pergunta: há bem mais tempo que os apóstolos estamos – nós, que nos dizemos
cristãos – na companhia do Mestre nazareno: será que já o conhecemos suficientemente
para nele reconhecermos o máxime representante de Deus junto a nós?
Conhecer o Cristo, identificando-o, sem confundi-lo, com o “Pai
que está nos Céus”, impõe-se como um esforço extra além da fé que manifestamos
num e noutro. O esforço mesmo do entendimento: se Deus é tanto imanente, ou
seja, está presente em sua Criação, quanto transcendente, isto é, está além de
nós e da Natureza que observamos, devemos enxergar assim também seu filho mais
velho, que, por força de sua evolução multimilenar, alcançou tal elevação que
pôde dizer “eu e o Pai somos um”.
Ainda que essa expressão possa dar lugar a muitas interpretações,
preferimos a versão de Pastorino (*), para quem Jesus, do alto de seu conhecimento
e domínio das leis espirituais, manifestava de si mesmo todo o potencial da
Divindade. E isso ele reconhecia, como reconhece, em cada um de nós, seus
irmãos menores, de modo que reafirmou o dito do Velho Testamento: “Vós sois
deuses” (Salmo 82) – isto é: trazemos em nós, em germe, toda a potência do Criador, com a
incumbência de também manifestá-la à medida que formos aprendendo a nos
conhecer intimamente.
Assim, aquele “tanto tempo” aludido pelo Nazareno na conversa
com seus apóstolos igualmente transcende o tempo, indo além dos três anos de
convivência física e remontando a outros momentos da existência, porquanto
aqueles Espíritos comprometidos com a missão do Cristo eram antigos colaboradores
que se oferecem para coadjuvar a tarefa redentora de Jesus junto à Humanidade.
***
(*) Carlos Torres Pastorino, autor de Sabedoria do
Evangelho.
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