Esta data no Evangelho (10 se setembro)

Francisco Muniz


O Evangelho de Marcos nos oferece, neste dia 10 de setembro, a oportunidade de refletirmos mais uma vez sobre a diferença entre ressurreição e reencarnação. É o que nos informa o versículo 10 do capítulo 9 daquele livro, abordando “uma questão sobre Elias”. 

“Eles observaram a recomendação perguntando-se o que significaria “ressuscitar dos mortos”.”

Este estudo vai hoje como homenagem a meu neto Pedro, que aniversaria nesta data, completando seu 15.º aniversário.

Essa “questão sobre Elias” a que o evangelista Marcos alude foi suscitada após o fenômeno da transfiguração no monte Tabor, quando Jesus, assumindo sua roupagem angelical, encontrou-se com Moisés e Elias, perante o testemunho dos apóstolos Pedro (o informante de Marcos), João e Tiago. Na ocasião, o Mestre pediu-lhes que nada dissessem sobre o ocorrido “até quando o Filho do Homem tivesse ressuscitado dos mortos”, conforme o texto da Bíblia de Jerusalém.

É então que Jesus explica a questão de Elias, que esteve encarnado entre eles na personalidade de João, o batista, cuja morte acontecera por aqueles dias: “Eu, porém, vos digo: Elias já veio e fizeram com ele tudo o que quiseram, como dele estava escrito”. O Messias se refere às antigas profecias acerca do Filho do Homem – ele mesmo! –, que também passaria por igual sofrimento.

Pois bem; segundo Allan Kardec, os judeus acreditavam na reencarnação, só que identificavam esse processo com a ressurreição. No entanto, cadáveres não voltam a viver, de modo que para os três discípulos de Jesus era mesmo difícil entender a ressurreição dos mortos. Somente quando o Cristo lhes aparece ressurreto é que eles tenderiam a compreender a verdade por trás do fenômeno, mas coube a Paulo de Tarso, com toda sua argúcia, conceituar o enigma da ressurreição, ao dizer, na primeira Epístola aos Coríntios: “Semeia-se corpo animal, é ressuscitado corpo espiritual. Se há corpo animal, há também corpo espiritual” (1Coríntios 15:44). 

Com efeito, morrendo o corpo material, o que ressurge daí é o Espírito, porquanto imortal, devidamente revestido de seu envoltório semimaterial que Kardec batizou de perispírito. A “questão sobre Elias”, portanto, envolve a compreensão acerca de um fato, por assim dizer, científico, embora envolto num simbolismo profundo. Em sua Carta, Paulo acrescenta ser assim que se herda o Reino dos Céus, o que Emmanuel corrobora explicando que a ressurreição é tão somente a readaptação do Espírito a seu ambiente natural – o plano espiritual – tão logo ele deixe a experiência terrena, pela porta do túmulo.

E é tudo um precioso aviso para todos nós, cristãos, que estamos aprendendo a viver para bem morrermos, segundo e seguindo os ensinamentos de Jesus, agora com o aprendizado espírita, para que não nos ocorra o que se passou com Lázaro de Betânia. De acordo com a interpretação de Carlos Torres Pastorino, em Sabedoria do Evangelho, o irmão de Marta e Maria não conseguiu cumprir o último passo de sua iniciação na Ordem de Melquisedeque, sendo necessária a intervenção direta do Mestre.

Para nós, que não estamos (ainda) interessados em ingressar nessa Ordem sacerdotal, o recomendável é cumprirmos os mandamentos relativos à vivência do bem e da verdade, manifestando humildade perante a Inteligência Suprema (Deus), fraternidade para com os semelhantes e compromisso conosco mesmos, no tocante à prática das virtudes. Vivendo tal disciplina nos candidataremos a uma reentrada em nosso mundo real conscientes do que nos aconteceu. Caso contrário, estaremos como nas vezes anteriores, quando somente morremos, sem termos desencarnados efetivamente. Nesse sentido, a palavra de ordem é desmaterializarmo-nos o quanto possível, renunciando ao domínio do ego enganador.

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