Esta data no Evangelho (1 de setembro)

Francisco Muniz



Com o capítulo 9 do Evangelho de Mateus iniciamos os comentários deste mês de setembro, começando do começo, como se diz, porquanto Mateus abre o desfile dos livros canônicos, isto é, os quatro relatos acerca do Cristo aceitos pela Igreja. Junto com o de Marcos e o de Lucas, integra a classificação dos evangelhos sinóticos, ou seja, aqueles que, colocados uns junto aos outros, apresentam grandes semelhanças. Dito isto, neste dia 1 de setembro trabalharemos com o primeiro versículo do capítulo citado, a partir deste texto da Bíblia de Jerusalém, que o coloca sob a epígrafe “Cura de um paralítico”:


“E entrando em um barco, atravessou e foi para a sua cidade.”

Tomemos essa sentença como uma metáfora e teremos muito o que dizer, principiando pela informação de que na mitologia grega o barqueiro Caronte atravessa o rio Estige transportando para o Hades as almas aqueles que já não vivem mais na Terra. O Hades seria, em nossa linguagem, a representação do mundo espiritual.

Já dissemos aqui que a vida de Jesus simboliza magistralmente toda a nossa experiência ao longo da jornada espiritual em busca da verdade, de modo que nessa passagem vemos, ou devemos ver, algo além da simples expressão textual.

Com efeito, estamos todos a bordo de um barco – chamemo-lo como quisermos: vida, planeta Terra, Humanidade... – no esforço de travessia para chegarmos à nossa cidade, à cidade que verdadeiramente é nossa, onde encontraremos abrigo e daremos continuidade às nossas atividades, trabalhando, servindo e aprendendo.

Estas reflexões ganham mais sentido quando recordamos que o Cristo, na personalidade daquele Jesus que peregrinava pela Palestina de dois mil e vinte anos atrás, ensinou-nos que estamos no mundo mas não pertencemos a ele, porquanto aqui estamos de passagem e ao final do presente estágio voltaremos para casa, para o lugar de onde procedemos – e importa retornarmos com a consciência suficientemente desperta, para que não enfrentemos incidentes ou surpresas desagradáveis.

Entendamos que a cada dia vivido nesta existência ensaiamos para o momento do retorno, e que a cada noite de sono experimentamos, efetivamente, o prelúdio da volta. Desse modo, a todo instante estamos nos preparando para tomar o barco de Caronte, ainda que inconscientemente, o que quer dizer insensatamente, posto que viemos para cá, para esta “cidade” que não é nossa, para o devido aprendizado sobre como a deixarmos.

A Terra é, pois, semelhante a um hospital do qual só obteremos alta médica após a cura de nossas mazelas, para o que é imprescindível sorver o remédio receitado, por mais amargo que seja. Assemelha-se, também, a uma prisão que só deixaremos por bom comportamento, comutando-se parte da sentença, ou após o total cumprimento da pena, fazendo-nos ansiar pela liberdade. Mas é, dizem-no os Imortais, um educandário onde recebemos as lições necessárias à correção de nossas deficiências e aprimoramento das qualidades que trazemos latentes na essência do ser.

E, como estamos num barco, enfrentamos inevitavelmente as agruras da travessia, na forma de ondas bravias, mares revoltos e tempestades que ameaçam tanto o barco quanto a segurança da viagem. Nesses momentos é que devemos estar apetrechados dos recursos indispensáveis à navegação: a bússola do Evangelho e o mapa oferecido pelo Espiritismo, a fim de chegarmos ao porto seguro representado pelo reconhecimento e brevidade na readaptação ao nosso ambiente de origem, o plano espiritual, cumprindo assim a rota previamente estabelecida pelo Cristo, o Grande Timoneiro.

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