Sobre íncubos e súcubos

Francisco Muniz


Santo Agostinho é um dos pais da Igreja, cuja teologia é marcada pela dicotomia bem e mal, representados pelas figuras de Deus (real) e de Satan (alegoria).
Para Agostinho, as tentações do mal sobre o homem eram principalmente de ordem sexual e por isso ele imaginou que quando um ser maligno obsidiava uma mulher, tratava-se de um íncubo - daí a expressão incubada, para referir a mulher solteira sobre a qual pairam dúvidas quanto a sua vida sexual.
Por outro lado, quando o assédio maléfico recaía sobre um homem, nele, ainda segundo a teoria de Agostinho, a causa viria de um súcubo. Nesse caso, o homem sucumbia como vítima, ao passo que a mulher daria vez à perseguição insidiosa, por sua natureza "inferior".
Isso fez com que muitas mulheres fossem acusadas de bruxaria na Idade Média e várias delas foram queimadas nas fogueiras da Inquisição.
Mas é claro que a teoria de Agostinho mostrou-se falsa principalmente depois que a Doutrina Espírita, da qual ele é um dos autores, veio lançar luz sobre o mundo dos espíritos e sua relação com os homens.
Com efeito, os espíritos exercem sua influência sobre nós, sejam eles bons ou maus, conforme Allan Kardec registrou na questão 459 de O Livro dos Espíritos.
Entretanto, os maus se aproveitam de nossas fraquezas morais propensas aos vícios de toda natureza e é somente assim que conseguem nos arrastar para o abismo, o que pode ser evitado ao impormos sobre nossa inferioridade a firme vontade de resistir a tais convites, melhorando nossa condição evolutiva.
Os amigos espirituais, por outro lado, contam com nossas boas disposições para o auto aperfeiçoamento para nos sugerir pensamentos elevados que resultarão em atitudes equilibradas e enobrecedoras, sempre respeitando nosso livre arbítrio, de modo que, tanto num caso como no outro, a responsabilidade é toda nossa, seja no fracasso, seja no acerto.
Saibamos escolher, portanto, discernindo quanto a como queremos conduzir nossa vida, uma vez que o apóstolo João nos esclarece, em seu Evangelho, que não devemos acreditar em todos os Espíritos, mas ver se eles vêm da parte de Deus, isto é, se são realmente bons e nos querem seguindo o bom caminho. 

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