Esta data no Evangelho (8 de agosto)

Francisco Muniz


É sempre útil procedermos, vez ou outra, a uma sincera autocrítica, no ambiente secreto da consciência, analisando a própria trajetória no rumo do objetivo maior: o crescimento espiritual. Assim é possível reconhecer tropeços onde antes se via elevação e decepções quando a situação significava belas promessas. Os meandros do autoconhecimento, bem se vê, são pontilhados, aqui e ali, de avanços e recuos que mais não são do que avaliação das oportunidades e realizações a que o ser é chamado a construir ao longo de seu aprendizado.

Faço essa digressão em virtude do texto do oitavo versículo do capítulo 8 do Evangelho de Mateus, no qual a Bíblia de Jerusalém inicia a terceira parte desse livro, tratando da "Pregação do Reino dos Céus" e introduzindo a parte narrativa referente a dez "milagres" de Jesus. O que nos cabe comentar neste dia 8 de agosto é ainda sobre a "cura do servo de um centurião". Ei-lo:

"Mas o centurião respondeu-lhe: "Senhor, não sou digno de receber-te sob o meu teto; basta que digas uma palavra e o meu criado ficará são".

Há, aí, diversos pontos a ponderar, mas vamos seguir a linha de raciocínio estabelecida no começo, relativamente à autocrítica, correspondente à aparente recusa do centurião de receber Jesus sob seu teto. Assim, convém tomarmos dois símbolos dessa passagem, importantes para nossa tentativa de interpretação à luz do Espiritismo.

Vemos que o centurião é o Espírito cujo servo encontra-se enfermo, momentaneamente incapacitado para o trabalho. Ora, o instrumento de ação do Espírito na matéria é o corpo, estando aquele encarnado, daí a procura pelo Médico dos médicos. Já vimos que o centurião não vai ele mesmo fazer a solicitação ao Messias, manda-lhe alguns emissários, e somente fala de sua condição indigna quando o Mestre já está próximo de sua residência.

E aqui esse episódio encontra um paralelo significativo com a mensagem "O Chamado", de autoria da amiga espiritual Irmã Rafaela e constante de meu livro com o mesmo título. É, entendemos, a renovação do convite à constante avaliação de nosso comportamento como seres dedicados às tarefas desempenhadas pelo aprendiz que se declara servidor do Cristo. Até que ponto estamos sendo dignos da presença do Amigo divino em nossa vida? Já somos capazes de manifestar a fidelidade que Ele nos pede com estas palavras: "Quem me confessar diante dos homens eu o confessarei diante do Pai"?
 
No que me compete, ainda estou muito longe de merecer a divina Presença, mesmo sabendo que o Médico não esquece seu paciente, sem se incomodar com a natureza de sua doença, quer apenas oferecer a terapia mais concernente ao caso apresentado. Sim, o servo do centurião foi curado à distância porque este era portador da fé que é, de fato, o veículo da cura. É o Espírito quem deve providenciar a cura do corpo, que é tanto seu uniforme de trabalho quanto seu abrigo provisório no mundo, estando nessa consciência a fidelidade exigida pelo divino Terapeuta para a realização dos chamados milagres.

O fato é que, através da ação misericordiosa do Cristo, estamos, todos nós, seus irmãos menores, recebendo uma parcela, por menor que seja, de seu inesgotável amor, por deferência do Pai amantíssimo. Mas é preciso fazermos por merecer tão amorosa assistência e não apenas necessitá-la. É então que se torna imprescindível a auto análise para a consequente correção de rumos, aderindo com a devida urgência aos propósitos renovadores da doutrina de Jesus, abrindo portas e janelas para a conversão ao Bem, deixando o Nazareno ocupar espaço sob nosso teto.

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