Esta data no Evangelho (7 de agosto)

 Francisco Muniz


Vem da Epístola de Paulo aos Romanos o tema de nosso comentário neste dia 7 de agosto. Na Bíblia de Jerusalém o versículo 8 do sétimo capítulo (vocês já perceberam: ora o versículo corresponde ao dia, ora ao mês e vice versa) está no contexto subtitulado "Papel da Lei", o qual mereceu longa consideração exegética de seus autores. Mas nós precisamos entrar nessa seara teológica, ainda que interessante, porquanto nossa interpretação pretendemos iluminá-la pelas luzes da Doutrina Espírita. Eis o que diz o versículo:

"Mas o pecado, aproveitando da situação, através do preceito engendrou em mim toda espécie de concupiscência: pois, sem a Lei, o pecado está morto."

Recordemos que o Apóstolo dos Gentios, quando era apenas o doutor da Lei Saulo de Tarso, caiu literalmente do cavalo ao ter seu famoso encontro com o Cristo no caminho para Damasco. Após passar pelas peripécias decorrentes de sua conversão, ela passa a meditar nas lições de Jesus a partir dos escritos de Mateus que Ananias lhe presenteou. Foram seis anos de profundos solilóquios enquanto tecia as urdiduras de muitos tapetes. Sua obra, portanto, é uma rica tapeçaria a nos encantar e convidar para o conhecimento de seus meandros.
Nessa carta, ele parece ter voltado àquelas confabulações íntimas, porque começa indagando se a Lei, base do pensamento judeu que ele tão bem conhecia, é pecado. Mas ele o nega, afirmando, contudo, só ter conhecido o pecado pela Lei, que lhe disse "não cobiçarás" - o que nos remete ao lendário Jardim do Éden, onde "Deus" teria proibido o primeiro casal de comer do fruto da árvore do Conhecimento. Mas tanto Adão (palavra que significa "homem") quanto Eva desobedeceram a ordem divina e assim perderam sua inocência. E isso foi bom, consideremos.
Porque com Allan Kardec aprendemos, graças às informações vindas dos Espíritos do Senhor, que o Espírito é criado simples e ignorante - assim como Adão! Ou seja: nossa consciência de origem ainda dormitava profundamente e, malgrado guardasse nela mesma a Lei (vontade) de Deus, não era essa vontade manifestada por conhecimento racional, apenas instintivamente. Todo um sistema de valores esta por se desenvolver.
Assim, é fato que enquanto esteja ignorante quanto a si mesmo e às responsabilidades que lhe pesam sobre os ombros, no campo do cumprimento dos deveres espirituais que lhe dizem respeito, o homem goza de uma espécie de felicidade. No entanto, uma vez conhecendo a natureza e extensão desses deveres, isto é, desde que sua consciência desperta, ele compreende que muito daquela felicidade decorrente de sua ignorância era só inconsciência quanto aos erros cometidos. É então que a Lei engendra todo tipo de concupiscência, no dizer de Paulo.
Podemos aprofundar essa questão tomando por base os dois momentos da existência do Espírito (ou do homem): durante a encarnação, ele tem à disposição apenas uma pequena parte de seu cabedal consciencial, com o qual desenvolverá sua vida, aprimorando-a o quanto possível para corresponder à Vontade do Criador. Ao desencarnar, porém, graças aos esforços feitos poderá retomar as faculdades que a organização corporal limitou, conhecendo melhor e mais ajuizadamente o que realizou e/ou poderia ter realizado quando na matéria.
É então que os erros cometidos (os pecados) vêm à tona para balizar uma nova temporada na esfera da existência corporal, a qual poderá ser tão mais proveitosa quanto sejam mais firmes a vontade e a determinação de vencer as tentações do mal. Para isso, todos nós contamos com a Lei de Deus na consciência e os infinitos recursos que a Divindade nos concede para vencermos as provas próprias da encarnação. E essa vitória é sobre nós mesmos!

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