Esta data no Evangelho (5 de agosto)

Francisco Muniz


Dei, neste 5 de agosto, ao dia a referência capitular, deixando ao mês o versículo de nosso estudo costumeiro, de modo que, abrindo a Bíblia de Jerusalém, deparo-me, por um lapso, com o capítulo 4 (intitulado "Rompimento com o pecado") da primeira Epístola de Pedro, a qual, no versículo 8 ("À espera da Parusia") apresenta-nos um tema que eu sempre quis comentar e só citava en passant:

"Acima de tudo, cultivai, com todo o ardor, o amor mútuo, porque o amor cobre uma multidão de pecados."

Antes de mais nada, o termo "Parusia" significa, traduzido do grego "parousia", a crença numa "segunda volta de Jesus no fim dos tempos para presidir o Juízo Final". Bem interpretado, entendemos que isso se refere ao Espiritismo, doutrina que nos esclarece quanto ao advento do Espírito de Verdade, aquele outro consolador prometido pelo Messias há mais de dois anos.
Vamos, agora ao pensamento do apóstolo Pedro.
É fato bem comum que a principal característica dos relacionamentos humanos é o conflito, a dificuldade de mútua aceitação, o que leva muitas pessoas a se queixarem de não serem amadas, compreendidas, respeitadas...
Jesus, o Mestre do Espírito, veio trazer ao mundo a proposta de superação dos conflitos separatistas pelo exercício do amor incondicional e pediu principalmente a seu discípulo mais velho, o pescador Simão, rebatizado como Pedro, que assim agisse, porquanto este era um homem bruto, turrão, indispondo-se com os outros por qualquer motivo.
Pedro devia ser uma companhia, no mínimo, difícil, mas era com ele que o Nazareno gostava de estar, foi em sua casa que estabeleceu a sede do colégio apostolar - podemos dizer assim. Jesus confiava em Pedro, que seguramente era um dos muitos Espíritos reencarnados naquela época com a missão de auxiliar o Cristo em sua tarefa missionária.
Pedro, fica muito claro nos relatos evangélicos, não compreendia, no início das pregações de Jesus, o significado do amor ilimitado que o Mestre proclamava, embora ele o amasse muito. Somente depois da Ressurreição é que o velho pescador compreenderia os meandros desse amor que, mais que um substantivo, é pura ação.
Por isso, ao responder por três vezes à pergunta do Ressuscitado - "Pedro, tu me amas?" - e ele respondesse seguidamente "Sim, Senhor, eu te amo!", ouviu o Cristo pedir-lhe: "Então apascenta minhas ovelhas!" É então que Simão compreende e passa a manifestar, posto que já o desenvolvesse, todo o amor de que era capaz, em sua nova tarefa de "pescador de almas", para a qual fora convocado por Jesus.
Foi, portanto, do alto dessa experiência no exercício do amor incondicional, pastoreando as ovelhas do rebanho de Jesus, o divino Pastor, que Pedro pôde afirmar que "o amor cobre uma multidão de pecados", referindo-se, por certo, aos erros próprios, cometidos por conta da ignorância que o tornava incompreensivo e impulsivo.
E na consciência de Pedro pesavam pelo menos dois atos atestadores de seu amor incipiente. Um deles foi a "defesa" intempestiva de Jesus no episódio da prisão do Mestre, quando ele decepara uma orelha do soldado Malco, sendo fortemente repreendido.
A outra vez foi sua tripla negação a Jesus, eximindo-se de uma participação mais ativa junto ao Messias aprisionado pelos poderosos do Templo. Jesus o havia advertido de que isso aconteceria e Pedro só se deu conta dessa verdade quando o galo cantou, anunciando um novo dia para suas reflexões.
Com efeito, um pequenino gesto de amor desinteressado é capaz de modificar todo um passado criminoso e disso a literatura, reproduzindo alguns fatos do comportamento humano, dá-nos infinitos exemplo, confirmados pelos relatos dos Espíritos.
A propósito, conheço uma historinha com jeito de anedota protagonizada por Pedro, agora entronizado como responsável pelas chaves do portão do Paraíso (vê-se, portanto, que é uma alegoria).
Pedro foi um dia queixar-se a Jesus porque sua genitora não estava ali com eles, padecendo, ao contrário, nas chamas infernais. O Senhor, porém, observa: "Pedro, você sabe que, para alguém estar aqui, é preciso que tenha feito caridade na Terra. Sua mãe fez algum ato bom?"
Estimulado, Pedro saiu em pesquisa e descobriu que, um dia, sua querida mãezinha havia emprestado um ramo de salsa a uma vizinha e foi depressa levar a boa nova a Jesus: "Mas um ramo de salsa, Pedro? É pouco, mas pegue esse ramo de salsa e estenda-o a ela, para tirá-la de onde está."
Assim fez ele. Estendeu o raminho de salsa na direção de sua mãe e tentou com todo cuidado retirá-la do ambiente infernal. Mas quando estava a meio caminho do Paraíso, o talo fino da erva se rompeu e a mãe de Pedro caiu. No entanto, pelo esforço de seu filho, ela não voltou para onde estava, agora abrigada no local chamado Purgatório...

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