Esta data no Evangelho (30 de julho)

Francisco Muniz



O capítulo 7 do livro Atos dos Apóstolos, escrito pelo evangelista Lucas, começa com o discurso de Estêvão na prisão, defendendo-se das acusações de Saulo de Tarso, e cabe-nos hoje, dia 30 de julho, comentar o versículo 30, no qual o primeiro mártir do Cristianismo nascente trata, como já abordado anteriormente, do histórico de Moisés:

"Decorridos quarenta anos, apareceu-lhe um anjo no deserto do monte Sinai, na chama de uma sarça ardente."

Nessa passagem há dois fatos cujo simbolismo reveste-se de importância para os estudiosos do Evangelho em geral e especialmente para os aprendizes da Doutrina Espírita: o número 40 e a visão do anjo.

Segundo a análise acurada de Carlos Torres Pastorino, nos volumes de sua obra Sabedoria do Evangelho, números e datas, no âmbito dos ensinos do Novo Testamento, dizem respeito a ciclos referentes às provas dos Espíritos na Terra, bem como aos tempos reencarnatórios. O Evangelho de João, por exemplo, assim como o Apocalipse, são ricos dessas indicações. Veja quem tem olhos de ver.

O segundo ponto, a visão do anjo, diz respeito à eclosão das faculdades mediúnicas: Moisés vê um Espírito resplandecendo sobre uma moita ou arbusto que parece queimar e ouve sua voz, assim como Abraão, alguns séculos antes. É pela mediunidade presente no homem, considerada o sexto sentido, que os Espíritos - os chamados "mortos" - entram em comunicação com os chamados "vivos". Nesse intercâmbio assenta-se a Doutrina Espírita, cujos postulados revelam as leis que regem esse contato.

De acordo com o relato bíblico comentado por Estêvão, na ocasião Moisés contava 80 anos, pois vira o anjo 40 anos após fugir do Egito por ter matado um homem, tendo então 40 anos. Logicamente, são dois períodos de 40 anos, significando o tempo em que o libertador dos hebreus se preparou para realizar a missão que lhe competia. Após o grande feito, ele peregrina outros 40 anos pelo deserto conduzindo seu povo à "terra prometida", desencarnando aos 120 anos de idade.

Pela análise de Pastorino, esses números se referem a cada ciclo de aprendizado do Espírito imortal pelas reencarnações afora, correspondendo aos degraus alcançados a cada experiência. Desse ponto de vista, os 40 dias da tentação de Jesus no deserto também simbolizariam as aventuras e desventuras de Moisés na longa jornada e também, em menor escala, mas não menos importante, as agruras que enfrentamos, cada um de nós, individual e coletivamente, no rumo da evolução espiritual.

Nesse aspecto, embora não percebamos, as raças se sucedem na Terra, desde Adão (raça adâmica) e Eva (raça évica), com o objetivo de aperfeiçoar a humanidade e sanear o planeta, que já foi um mundo primitivo, dominado pelas forças da Natureza e pelo instinto de seus primeiros habitantes, ocasionando a predominância do mal.

Hoje, dizem-nos os Espíritos, desde a Revelação espírita em meados do século XIX, nosso planeta experimenta um momento de transição para a próxima etapa de aprendizado da Humanidade, quando o Bem preponderará. Todas os acontecimentos observados neste período, de dois mil anos atrás para cá, sejam telúricos, climáticos ou aqueles próprios da ação humana, devem ser entendidos como as dores de um parto, ao fim das quais nascerá um mundo renovado e melhor, embora o mal ainda esteja presente.

No entanto, meditando nos "40 anos" que temos à disposição, pela misericórdia divina, aprenderemos a recorrer ao nosso potencial mediúnico, ouvindo os Espíritos do Senhor e sendo dóceis às suas orientações (vide o Prefácio de O Evangelho Segundo o Espiritismo).

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